Episódio na BR 116

Cecilia

Episódio na BR 116

 

                        Para Raul Furquim Junqueira

 

Férias, madrugada.

 Partimos da margem do Rio Grande,

no  carro novinho, recém-saído da agência,

e seguimos   para o sul,  às praias de Camboriú.

Atravessamos os Estados de São Paulo,

Paraná, e um pedaço de Santa Catarina.

Na altura de Itapema nos acidentamos.

 

O carro, arrastado entre caminhão e barranco,

deu perda total.   Nós,  ficamos no susto.

Espera, tensão, espera, tensão, polícia, tensão,

demora, fotos, demora, depoimentos, B.O.

Anoitecia, chegava  o resgate,

para retirar o carro, liberar a pista.

O operador do guincho,

era um tipo tão grosseiro e  rude,

que nos assustou.

 

Passou por nós, olhando com raiva  

o desastrado casal humano

que provocara o desastre.

Devagar rodeou a o carro,  desfez a carranca,

 avaliou os estragos com expressão de tristeza

tão profunda, que doeu em mim. Parecia

examinar uma criança brutalizada.

Passando pela frente do carro, abaixou-se um pouco

e  acariciou o para-choque,  como quem consola.

 

Emocionada, compreendi:   Humanos  sofrem

vendo, em ruínas, a obra  de outros homens.

 

 

  • Autor: Cecília Cosentino (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 12 de dezembro de 2020 16:37
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 19
Comentários +

Comentários5

  • Harpyja

    Humanos tem fácil comoção, sofrem fácil... difícil é se moverem para mudar. Belíssimo poema, Boa tarde.

    • Cecilia

      Obrigada, Haryja. Fiquei muito feliz com o seu comentário.

    • CORASSIS

      Que historia !!
      Delicadeza e indelicadeza estão em toda parte
      a diferença está em tratar a tudo e a todos com gentileza e poesia .
      Abraços nobre Cecilia

      • Cecilia

        Obrigada, Corassis. Escrevi para meu neto, amante de carros, que nesta semana foi aprovado em Engenharia Mecânica. Grande abraço.

      • Hébron

        Uma história que retrata um pouco da nossa humanidade complexa...
        Abraço, Cecilia

        • Cecilia

          Obrigada, Hébron. Tem razão, mal nos conhecemos...Descuidamos de nos analizar, e somos rápidos em julgar os outros. Grande abraço.

        • @(ND)

          Gratidão pela história Cecília, quanta sensibilidade ao relatar tão sofrido memento, e na sensibilidade encontra no outro , não o desdém , mas o sentir... Obrigada pela partilha! Abraços!

          • Cecilia

            Obrigada, Neiva. A gente gosts de reclamar...mas essa pandemia nos deu tempo para meditar sobre valiosos momwntos da vida. Abraço.

          • Claudia Casagrande

            Dona Cecília,
            Graças a Deus o prejuízo foi material.
            Fico feliz pelo Raul. Será um lindo engenheiro.
            Que belo poema rendeu esta história.
            Parabéns!!
            beijos

            • Cecilia

              Obrigada, Cláudia. Nossos amigos são muito bondosos comigo, você também. beijo



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