Episódio na BR 116
Para Raul Furquim Junqueira
Férias, madrugada.
Partimos da margem do Rio Grande,
no carro novinho, recém-saído da agência,
e seguimos para o sul, às praias de Camboriú.
Atravessamos os Estados de São Paulo,
Paraná, e um pedaço de Santa Catarina.
Na altura de Itapema nos acidentamos.
O carro, arrastado entre caminhão e barranco,
deu perda total. Nós, ficamos no susto.
Espera, tensão, espera, tensão, polícia, tensão,
demora, fotos, demora, depoimentos, B.O.
Anoitecia, chegava o resgate,
para retirar o carro, liberar a pista.
O operador do guincho,
era um tipo tão grosseiro e rude,
que nos assustou.
Passou por nós, olhando com raiva
o desastrado casal humano
que provocara o desastre.
Devagar rodeou a o carro, desfez a carranca,
avaliou os estragos com expressão de tristeza
tão profunda, que doeu em mim. Parecia
examinar uma criança brutalizada.
Passando pela frente do carro, abaixou-se um pouco
e acariciou o para-choque, como quem consola.
Emocionada, compreendi: Humanos sofrem
vendo, em ruínas, a obra de outros homens.