Nelson de Medeiros

CARTA AO DESAMOR...



 

CARTA  AO DESAMOR...

 

Eu bem percebo quando te calas. Em teu pensamento sei que não habito...

Nele estou sempre ausente... Penso, tento chegar, mas não resisto...

Que contraste! Amor e desprezo!?

 Não! Não ouso ir tão longe, só desamor!

 

Atravessei a vida em tua busca,

Pensando ter te encontrado de forma incomum,

Forma que tu não aceita, e nem crê que exista...

Nem no lirismo e sonhos de poetas!

 

Não te culpo. Também não acreditava.

Só que o destino pensando diferente,

Abriu-me este arcano, e sem que  eu visse

Perdi-me  na descoberta!

 

E, foi assim, de dor em dor, de amargura em amargura,

Onde a felicidade às vezes pontuava, que até vi uma vida futura!

Mas, depois de muito sofrimento implorei aos céus um lenitivo,

E, tu, com a frieza da incredulidade, por fim, de ti me afastas...

 

Convenceu-me de  fato... Tens razão...

 É como dizem os sábios,

 Nada dura para sempre,

E, toda dor tem seu momento do basta!

 

Digo-te, porém,  não sou como as ondas do mar

Que espocam nas areias da mesma praia há milênios,

E  insistem nisso, convictas de seu amor pela Terra,

Num sagrado ritual  sem descanso! Não tenho esta paciência!

 

Às vezes sinto teus olhos voando para o infinito e vejo  em tua boca

Que existe, há muito, um beijo lacrado  de esperança louca,

E que jamais vou conseguir abri-lo...

Talvez, por isso, finalmente convenci-me de tua indiferença!

 

Não vale a pena, dizes. Solto, então, as amarras da verdade,

E me lanço ao mar da solidão...  Perdoa, e por mim, apenas ore!

Quem sabe, um dia, meu veleiro, com a carga da saudade,

Retorne, e no teu porto inda ancore!

 

Nelson de Medeiros

 

  • Autor: Nelson de Medeiros (Offline Offline)
  • Publicado: 1 de Julho de 2020 10:29
  • Categoria: Carta
  • Visualizações: 27

Comentários8

  • Maria Lucia

    Poema triste, porém, de uma beleza que encanta, ainda mais com palavras certas, cuidadosamente sopradas.
    De fato, o desamor onde se instala, cria a solidão, a tristeza e a dor. Dizem que ele é irmão gêmeo da indiferença.
    Parabéns poeta de alma sensível!! Beijo poético

  • Ana Carmo

    Lindo poema, meu caro amigo Nelson!
    Iniciei querendo que você decida logo deixá-la, mas fui ficando em dúvida, quase convencida por tão lindo amor. E, no final, com tão belos estrofes, não consegui me manter na torcida do contra.
    "Retorne, e no teu porto inda ancore!"
    Suas belas palavras, esse amor expressado com tanta força e sentimentos parece não convencer apenas a sua musa, não é mesmo?!
    Vou atender o seu pedido feito a ela "apenas ore"! Porque diante de tanta emoção, torço que um dia encontre-se, encontre-o em alguém que merece seus lindos versos e coração!

  • Vlad Paganini

    A indiferença e o desamor mesmo amando tem um nome: fraqueza! Poesia triste, bem escrita. Lamento existirem tantos nesse mundo vivendo dessa forma, amando e fugindo do amor, da entrega por medos. Parabéns meu amigo poeta. abraço.

  • Hébron

    O desamor é igual escuridão, qeu se justifica apenas pela ausência de luz, pela falta da essência... Ainda que não correspondido, o amor é sempre bonito...
    Abraço

  • Lilian Fátima

    Eu tinha lido, não me lembro em qual site, mas reli...texto recheado de sentimentos de amor, paixão,desilusão e um desencanto.Linda missiva. Parabéns

    • Nelson de Medeiros

      Grande Lilian. Satisfação sempre em receber teus comnetários que inventivam o vate , eterno romantico sonhador.
      1 ab

    • Rosangela Rodrigues de Oliveira

      Que delicia de poema. Parabéns.

    • Cecilia

      Nelson, lindo, bem feito, bom de ler esse poema delicado . Parabéns .Abraço.

    • Jakeline Isabel

      Eu li e reli... Lindo... Intenso... um poema perfeito.



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