CARTA AO DESAMOR...
Eu bem percebo quando te calas. Em teu pensamento sei que não habito...
Nele estou sempre ausente... Penso, tento chegar, mas não resisto...
Que contraste! Amor e desprezo!?
Não! Não ouso ir tão longe, só desamor!
Atravessei a vida em tua busca,
Pensando ter te encontrado de forma incomum,
Forma que tu não aceita, e nem crê que exista...
Nem no lirismo e sonhos de poetas!
Não te culpo. Também não acreditava.
Só que o destino pensando diferente,
Abriu-me este arcano, e sem que eu visse
Perdi-me na descoberta!
E, foi assim, de dor em dor, de amargura em amargura,
Onde a felicidade às vezes pontuava, que até vi uma vida futura!
Mas, depois de muito sofrimento implorei aos céus um lenitivo,
E, tu, com a frieza da incredulidade, por fim, de ti me afastas...
Convenceu-me de fato... Tens razão...
É como dizem os sábios,
Nada dura para sempre,
E, toda dor tem seu momento do basta!
Digo-te, porém, não sou como as ondas do mar
Que espocam nas areias da mesma praia há milênios,
E insistem nisso, convictas de seu amor pela Terra,
Num sagrado ritual sem descanso! Não tenho esta paciência!
Às vezes sinto teus olhos voando para o infinito e vejo em tua boca
Que existe, há muito, um beijo lacrado de esperança louca,
E que jamais vou conseguir abri-lo...
Talvez, por isso, finalmente convenci-me de tua indiferença!
Não vale a pena, dizes. Solto, então, as amarras da verdade,
E me lanço ao mar da solidão... Perdoa, e por mim, apenas ore!
Quem sabe, um dia, meu veleiro, com a carga da saudade,
Retorne, e no teu porto inda ancore!
Nelson de Medeiros