Minha avó reunia a criançada
Pra contar tanta história engraçada
Dos livros que guardava no baú
Certa vez nos contou de um menino
Negrinho, engraçado e bem traquino
Que nascera dos brotos de bambu
O "causo" contaria após a janta
Que "entalou" nesse dia na garganta
Pois, do nada, a comida azedou
Até o café que tentou substituir
Coou amargo e salgado ao servir
Que pensei que a coitada caducou
Por fim, comemos do que tinha
Se ajeitamos num canto da cozinha
Pra ouvir outra história da Vovó
Sobre a vida obscura de um garoto
Travesso, folclórico e maroto,
Cachimbeiro e pula numa perna só
O mito arteiro dos solos campinos
Faz tranças na crina dos equinos
Enxota as bestas pra amedrontá-los
Assovia um som agudo, penetrante
Amedronta e confunde os viajantes
Desenfreia a carroça e os cavalos
Abre, à noite, a porteira, na surdina,
Entra no lar, apaga a lamparina
Durante o sono assusta as crianças
No torvelim alça folhas, faz sujeira
Esconde livros e'o dedal da costureira
Seu gorro rubro é a sua segurança.
- Eu pensava sobre essa criatura
De apenas meio metro de altura,
(Cresce até 3 metros, se quiser)
Poderia ser igual qualquer criança
Estudar e brincar na vizinhança
E sonhar de ter na vida oque puder!
De repente um tremor tão violento
Balançou nossa casa com o vento
Como que abduzida em torvelinho
Uma luz clareou meu pensamento
Ao ouvir no furor do movimento
A canção vinda do redemoinho:
- (O saci-pererê de uma perna só
Pitou no pito da minha vó
O saci-pererê de uma perna só
Pitou no pito da minha vó)
Tal a lenda, pra findar a baderneira
No paiol corri buscar uma peneira
No peganho, revoltado a lancei
Foi assim que o maroto veio preso
Tirei o gorro lhe deixando indefeso
Na garrafa o espírito tranquei
Risquei no litro o símbolo da cruz;
O fato é que ao perder o seu capuz
Fica inépto, reduzido ao flagelo
Se acaso ele não for capturado
Vive mais setenta e sete anos aloprado
E transmuda em venenoso cogumelo
- Autor: Elfrans Silva (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 30 de outubro de 2021 14:14
- Comentário do autor sobre o poema: A origem do Saci-pererê A lenda do Saci-pererê existe desde fins dos tempos coloniais e tem origem nas tribos indígenas do sul do Brasil. A lenda é contada em todas as regiões brasileiras e, por isso, a estória modifica-se conforme o local. Em alguns lugares, ele possui nomes diferentes como: Saci-Pererê, Martim-pererê, Matita Perê, Saci-Saçurá e Saci-Trique. Inicialmente, o Saci era retratado como um personagem negro e endiabrado, que possuía duas pernas e um rabo. A partir da influência africana, ele perde a perna lutando capoeira e adquire o hábito de fumar o pito, ou seja, o cachimbo. O gorrinho vermelho do Saci-pererê, por sua vez, advém do folclore do norte de Portugal. Era utilizado pelo lendário Trasgo, que possuía poderes sobrenaturais. (Márcia Fernandes - Professora licenciada em Letras Atualizado em 13 agosto 2021)
- Categoria: Surrealista
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Comentários5
Realmente surreal!
Estórias e histórias que temos na memória. A imaginação voa e sobrevoa e povoa nossa mente. Abraços amiga poeta Maria Dorta. Ótimo domingo pra vcs
Boa tarde peota.
De fato surrealista! E de um precisão na composição dos versos e estrofs muito boa msmo.
1ab
Grato amigo poeta por seu comentário.
Paz e Bem, por toda sua vida. Boa noite
Muito bom! Parabéns!
Querida amiga, grato por apreciar. Bjs no teu coração. Bom final de semana pra vc e a família.
Elfrans, gostei muito do seu poema com saci e vovó contando história. Gostei tambem de ter colocado muito bem a lenda do Saci. Nossas crianças não o conhecem, nem ouviram falar da Mãe d"Agua, do Caapora, do Negrinho do Pastoreio, e de muitas lendas nossas. Estão agora encantadas com o dia das bruxas... Nada contra, é divertido, mas é importado.. As escolas deveriam privilegiar as nossas raízes e tradições, como fazem os nossos queridos imigrantes.
Temos o mesmo pensamento, amiga poetisa. Nada contra a influência estrangeira em muitos aspectos do cotidiano de nosso povo; porém, dar primazia e relegar os nossos costumes e tradições a segundos planos, acredito que estaremos perdendo pouco a pouco nossos espaços. Lembro de um Rock in Rio, que os brasileiros protestaram enquanto uma cantora americana cantava e no telão se exibia a bandeira dos EUA. Ora, se importou tanto as canções americanas, se divulga tanto nas FMs, nos outdoors, suas marcas nas roupas de grifes, etc..., enfim, dando espaços à eles em nosso território, e de repente num show que duraria apenas algumas hrs ou poucos dias, o brasileiro querendo mudar a situação?!!? Prefiro homenagear o "produto Nacional, torná-lo mais conhecido. Foi o caso da minha poesia BENDITO O BRASIL DOS POETAS, no Dia do Poeta. Fiz uma menção à todos, todavia listei nossos poetas nascidos no Brasil. Lamentei o tempo e espaço, até mesmo o conhecimento, para mencionar todos. Acredito que devemos honrar à todos sem se descuidar de nós mesmos.
Outrossim, fico grato por receber seu comentário e compartilhar sua opinião.
Bjs minha amiga poeta. Uma boa tarde de domingo e uma rica semana de paz e saúde. Abraços
muito bom!!!
adoro o folclore e o poema ficou demais. parabéns!
abraço
Interessante como as culturas mesclam as culturas qdo vão se importando e exportando as fábulas e lendas rsrs.
Muito importante a preservação dos folclores. Bom seria um pouco de espaço pra tudo isso, nas escolas.
Gratidão por comentar poeta Claudia. Boa noite. Abraços
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