Minha avó reunia a criançada
Pra contar tanta história engraçada
Dos livros que guardava no baú
Certa vez nos contou de um menino
Negrinho, engraçado e bem traquino
Que nascera dos brotos de bambu
O \"causo\" contaria após a janta
Que \"entalou\" nesse dia na garganta
Pois, do nada, a comida azedou
Até o café que tentou substituir
Coou amargo e salgado ao servir
Que pensei que a coitada caducou
Por fim, comemos do que tinha
Se ajeitamos num canto da cozinha
Pra ouvir outra história da Vovó
Sobre a vida obscura de um garoto
Travesso, folclórico e maroto,
Cachimbeiro e pula numa perna só
O mito arteiro dos solos campinos
Faz tranças na crina dos equinos
Enxota as bestas pra amedrontá-los
Assovia um som agudo, penetrante
Amedronta e confunde os viajantes
Desenfreia a carroça e os cavalos
Abre, à noite, a porteira, na surdina,
Entra no lar, apaga a lamparina
Durante o sono assusta as crianças
No torvelim alça folhas, faz sujeira
Esconde livros e\'o dedal da costureira
Seu gorro rubro é a sua segurança.
- Eu pensava sobre essa criatura
De apenas meio metro de altura,
(Cresce até 3 metros, se quiser)
Poderia ser igual qualquer criança
Estudar e brincar na vizinhança
E sonhar de ter na vida oque puder!
De repente um tremor tão violento
Balançou nossa casa com o vento
Como que abduzida em torvelinho
Uma luz clareou meu pensamento
Ao ouvir no furor do movimento
A canção vinda do redemoinho:
- (O saci-pererê de uma perna só
Pitou no pito da minha vó
O saci-pererê de uma perna só
Pitou no pito da minha vó)
Tal a lenda, pra findar a baderneira
No paiol corri buscar uma peneira
No peganho, revoltado a lancei
Foi assim que o maroto veio preso
Tirei o gorro lhe deixando indefeso
Na garrafa o espírito tranquei
Risquei no litro o símbolo da cruz;
O fato é que ao perder o seu capuz
Fica inépto, reduzido ao flagelo
Se acaso ele não for capturado
Vive mais setenta e sete anos aloprado
E transmuda em venenoso cogumelo