EU,COMIGO
Ah! O isolamento da pandemia!
Explorei, longa e profundamente, meus arcanos mais secretos. Recuperei doces e picantes lembranças perdidas nos tempos vazios desperdiçados com ninharias.
Descobri que as circunvoluções do cérebro são minas onde podemos garimpar tesouros antigos, trocados por badulaques, quando foram nossos.
Fiquei sabendo que o coração abriga, nas suas quatro cavidades, grandes emoções, que esquecemos sepultadas na ganga e agora são pepitas cintilando na bateia.
O corpo todo guarda mistérios e recursos. Um tinido de cristal, uma voz grave, um dobre de sinos, longe, despertam filigranas escondidas nos labirintos dos ouvidos.
A extensa pele tem, tatuadas em seus milhões de células, a memória de toques e pressões, carinhos e afagos, desejos e suspiros.
Aroma de suor recente, cheiro de pão fresco, salsugem do mar, são levados à mente, e às gônadas, por narinas sutis.
E os olhos? Mesmo míopes, atentos, percebem o amor no aceno de um lenço, no centro carmesim de uma rosa, nas estrofes de poema quase esquecido...
Oh! Senhor!
Que crueldade tirar-nos, tão cedo, o ardor da juventude, e conservar-nos, até tão tarde, o tormento da saudade!
- Autor: Cecília Cosentino (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 3 de outubro de 2021 19:15
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 38
- Usuários favoritos deste poema: Altofe, Sara Stefanie
Comentários8
Belo e rico poema!
A saudade e nossa história, a releitura das nossas próprias lembranças são riquezas...
Abraço, poetisa
Obrigada, Hébron! Grande abraço.
Que profundo, amiga! Sensíveis e tocantes versos... Abraço,
Obrigada, Ema. Grande abraço!
Amiga Cecília, que poema interessante, nos leva a uma boa reflexão sobre o que fazemos com as lembranças.
Boa noite, querida e boa semana!
Obrigada, Edla, Grande abraço!
Um rico filme, repleto de emoção e encantamento se passou no isolamento.
Sorte a sua, dona Cecília.... nem todos os filmes tem tantos detalhes.
Que lindo!
beijos
Obrigada, Cláudia. Grande abraço carinhoso.
Tem gente neste mundo desejando ao menos um " trailer " de um filme como esse rsrsrs. Mas veja, às vezes pessoas tem oportunidades de estar em papéis privilegiados e desprezam o roteiro por acepção aos coadjuvantes. Parabenizo você, Cecília, pois a impressão que colhi nesta leitura, é a de que, aproveita o momento, hoje, para "recuperar as lembranças...perdidas no tempo..." e assim, atualizar para um novo tempo, já que ficou a certeza de que estas são "doces lembranças". Se são doces, então tudo valeu a pena. Nada se perde, tudo se transforma. Abraços fraternos amiga poeta. Boa semana de paz e saúde
Muito obrigada, meu querido amigo, por ter-me lido con tanta atenção e me prestigiadocom seus comentários. Abraço!
“ O corpo guarda mistérios e recursos.” Isso mesmo, querida Cecília, cada célula do corpo detém suas memórias, que lhe chegam através do sentidos físicos, pelos quais você percebeu o caminho da vida, que lhe foi muito rica. De muita sensibilidade o seu poema. O que não me é surpresa.
Que demore... demore os seus dias e com muitas significativas recordações
Um beijo.
Meu querido Maximiliano. Agradeço, encantada, suas colocações sobre meu texto. Acho muito, mas tenho que acreditar em você. Beijo afetuoso.
Bom dia Cecilia.
Ah, como é gratificante acessar um olhar de capturas tão sensíveis e profundas como o seu!
Lindo demais!!!
***Tenho um profundo respeito e admiração por sensibilidades desta grandeza como a sua.
Parabéns!
Um terno e grato abraço.
agradeço sua crítica generosa. Você não acredita o quanto nós, os velhinhos, precisamos desse alento! abraço carinhoso
Cecília, gosto muito desses mergulhos, perscrutações, esse “cair em si” ou galgar em nós mesmos, principalmente se feito com do seu jeito…
Afetuoso abraço…
Obrigada, querido amigo. Eu me exibo, com a "ADEGA DOS SONHOS", em negrito, emoldurada, na sala. .
.Ainda não me visitou ninguém que possuísse semelhante troféu! Beijo.
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