Claudia Casagrande

Imigração

Depois que cheguei aqui

Dia algum me esqueci

Daquele choro choroso

Aos poucos se misturando

À melodia do mar

Das mil mãos nos acenando

Da incerteza de ir

Do receio de ficar.

E eu “churia”

E minha mãe “churava”

Era assim que ele contava...

Logo então já se casava

E sem tanta preocupação

Enchia uma casa de gente

Que chegava de repente

Uns morriam, outros não.

Mesmo que tanto faltasse

Mesmo que partisse ao meio

Um lápis para escola

Um pedacinho do pão

Um dia o chinelo é de um

No outro dia é do irmão

Não viam problema algum

Não havia reclamação.

Nenhum dos onze está aqui

Pra contar a sua história

A herança que ficou

Foi uma vaga memória

De tamanha comoção.

 

  • Autor: Claudia Casagrande (Offline Offline)
  • Publicado: 18 de Agosto de 2021 17:22
  • Comentário do autor sobre o poema: Uma homenagem ao meu bisavô, que veio do Líbano e fez sua família aqui no Brasil.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 75

Comentários9

  • Shmuel

    Lindo, poema! Que história de vida decente da sua família. Uma superação em lindos versos.
    Abraços a grande poeta, Cláudia Casagrande.

    • Claudia Casagrande

      Grande poeta é você, a quem agradeço tanta gentileza.
      Muito obrigada por ler, comentar e gostar.
      um grande abraço

    • Maximiliano Skol

      “Um dia o chinelo é de um
      No outro dia é do irmão
      Não viam problema algum
      Não havia reclamação”
      Linda memória, contada com a sensibilidade poética que é sempre sua, querida Claudia.
      Beijos.

      • Claudia Casagrande

        Doutror Maximiliano, o carinho das suas palavras sempre me emociona.
        Fico muito grata e feliz com seus comentários.
        Obrigada de coração
        beijos

      • Maiza Chagas

        Que linda lembrança Claudia.
        Na minha infância passamos por isso.
        Os irmãos que iam pro colégio de manhã, passava os chinelos pros irmãos que iam pra aula de tarde. Nem que ficasse pequeno ou grande os chinelos eram compartilhados. Tenho viva em mim muitas lembranças dos tempos de infância na casa de meus pais.
        Amei seu poema.
        Um abraço

        • Claudia Casagrande

          Querida Maiza, que bom que fiz aflorar recordações da sua vida.
          Muito obrigada pelo seu sempre doce e generoso comentário.
          beijos

        • Cecilia

          Lindo, Cláudia! Sensível, delicado. Minha mãe e minha tia iam juntas para a escola, com o mesmo sapato, cada uma com um pé...Contam, achando graça. Não é mesmo uma graça aceitar a vida, como faziam os imigrantes? Beijo.

          • Claudia Casagrande

            Dona Cecília, exatamente isso.... Nada mais feliz que aceitar a vida como ela é.
            Agradeço sempre suas gentis e doces palavras.
            Tenho uma imensa alegria de estarmos juntas aqui, presente seu.
            Muito obrigada de coração
            beijos

          • Nelson de Medeiros

            Bom dia poeta!
            Deus! Quanto lirismo, quanta sensibilidade, quanto talento nestes versos que penetram na alma e remete o leitor a prados distantes, a velha slembranças.
            Um primor, menina poeta.
            1ab e minha admiração pelo talento.

          • Claudia Casagrande

            Ganhei meu dia com seu comentário, meu amigo poeta.
            Muito mais generoso que mereço, mas me enche de alegria.
            um grande abraço e obrigada de coração

          • Edla Marinho

            Claudia, minha linda amiga, como você escreve bonito!
            Comovente e linda a história tão caprichosamente contada num poema que enche a alma da gente de emoção.
            Lindo demais, versos elegantes, como a própria autora.
            Sou fã de seus escritos, você bem sabe.
            Tenha uma tarde linda e abençoada!
            Meu abraço.

            • Claudia Casagrande

              Edla querida, eu te agradeço do fundo do coração.
              Você sim é uma grande escritora e seus elogios causam uma imensa felicidade em mim.
              Também sou sua fã, já te falei.
              Um grande abraço e um excelente final de semana.

            • Sergio Neves

              SERGIO NEVES - ...mulher...,...que ousadia é essa?...como ousas derramar por aqui tanta grandeza poética?.....tá certo que esse espaço se destina a "coisas" desse tipo (poéticas)...,...mas,...não precisavas estrapolar
              ...-"humilhar" a nós, "pobres escrvinhadores".... / ...que coisa mais bonita derramaste aqui...,...
              reminiscências de emocionar!...muito! // (...vou te lendo aos poucos...,...só fico imaginando o que se dará quando eu findar os teus escritos...,...o que será de mim?...o que farei da minhha vida? (...e tô falando sério,...me acostumaste muito mal! (ou,...muito bem!) /// Carinhos, minha amiga.

              • Claudia Casagrande

                Quem dera eu escrevesse assim.... mas eu fico imensamente agradecida sempre que leio um comentário seu. Você sim está me acostumando muito mal.... rssss
                um grande abraço

              • Sergio Neves

                ...estrapolar = extrapolar.

                • Claudia Casagrande

                  Estou aguardando a poesia que prometeu postar.

                  • Sergio Neves

                    SERGIO NEVES - ....minha amiga, eu ainda tô meio que em dúvida se devo ou não postar...,...é um "negócio" por demais simples...,...escrevi assim, num "vapt-vupt"...,...sem grandes "rebuscamentos"... / ...agora, se eu publicar quero que me prometas uma coisa...,...não rias,...não deboches... /// Carinhos.



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