Noite em São Paulo, percorro rápido as ruas
Sou uma sombra na Praça da República
Sou reflexo na Ipiranga com São João
Carro barulhento na marginal Tiete
Noite em Sampa se multiplicando em cores e sons
Rápido metrô por sobre as ruas
Rápidas pessoas passando pela vida
Mas é noite
A rua ganha cores que o dia lhe nega
Bares, sons, sirenes, sereias, sirigaitas
Multidão de gente que já não corre
A cidade que nunca pára, flui mais lenta
Sorvo a bebida de cada copo
Roubo o sorriso falso de cada rosto
Sou o sexo fácil em cada esquina
Sou a historia amarga se oferecendo
em cada difícil sexo fácil
sou um grito mudo daqueles que são excluídos
sou a ilusão da cola que mata a fome e os neuronios
neurônios quem precisa deles
a cidade tem tantos néons tão belos
tantos e viadutos e pontes onde embaixo se pode dormir
a cidade imensa queda pequena à noite
é como se encolhesse para dormir
é como só existisse onde fica desperta
A cidade dialética se deleita a noite
Pobres, mendigos, putas, carros importados e mansões
Tudo partilha o mesmo espaço cidade
Todos tem ambições
Diferentes mas ambições
Corro a cidade à noite
Num êxtase e loucura incomparáveis
Sou lúcido
Sou mil
Sou todo sentidos
E busco um alento na noite
Não sou único
Estou só mas não sozinho
Uma multidão de anônimos solitários me acompanham
Perambulando na noite
Sou lúcido e febril
Busco um rosto na noite
Ela oferta vários, nenhum é o meu
Busco alento na noite
Saio de Paraíso e busco Consolação
Na Paulista nada me consola
Você é so mais uma ilusão.
Lavras, 11 de abril de 2006.
Idael Christiano de Almeida Santa Rosa
- Autor: Santa Rosa ( Offline)
- Publicado: 19 de dezembro de 2020 16:27
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 17
Comentários6
Sampa é isso e se perde na descrição de uma cidade apaixonante mas desumana ,massacrante ,cheia de contrastes. A gigantesca metrópole,feita em grande parte pelos retirantes, hoje os despreza,tratando-,os como trastes,lixos humanos jogados sob marquises bancos de praças,arruinados por drogas e são olhados com desprezo,banidos batidos pela Polícia de um poder Estatal cujas entranhas estão podres...ali se tem um retrato da indiferenca desses ricaços e de políticos que dão asco! E quase todos os outros,pecando por omissão!
Preciso e precioso o seu comentário poético
Santa Rosa, que versos magníficos!
Tema, ritmo, lingua pátria, tudo mais que perfeito. Bravíssimo!
Grato Cecília
Esse cenário é comum nas grandes metrópoles. Milhares "solitários se acompanham ou ignoram, no cenário que monstruosamente engole gente. Parabéns, pela obra magistral!
Grato Ema, que a poesia nos acolha.
Sampa !!!
tenho saudades da Vila Madalena
onde nasci, pra mim o melhor bairro de São Paulo ou já foi, meu nobre Santa Rosa , Sampa é isso é muito mais... se pudesses, eu sei escreverias mil paginas no mínimo
Teu poema é espetacular !!!
consegui viver e
é viajar nele .
Parabéns
Abraço
Meu caro vila Madalena é realmente um lugar muito encantador, ou pelo menos era no tempo que eu frequentava com tempo a grande metrópolis.
É isso mesmo, Santa Rosa, lembro-me das boates La Licorne, L'Adimral, La Vie en Rose, todas na Rua Major Sertório e a Teteia na Bento Freitas. Era a "boca do luxo", hoje "a boca do lixo". A Praça da República... O Largo do Arouche...
E agora a pandemia. Seus versos a desconheceram... A sua história não fora tão amarga assim....
Como Minas, Sampa são muitas acolhendo ou rejeitando a cada novo momento, um não poder parar para quem não tempo e uma terna sedução para quem se permite contemplar.
Salve a Paulicéia Desvairada.
Adorei o poema meu querido!
"Na Paulista nada me consola"
Quase um trocadilho...
Abraços
ela era só mais uma ilusão
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