Zaira Belintani

Eu me Lembro

Eu me lembro 
Do teu cheiro
Cheiro de leite e suor
Da tua lida sagrada
Corrias por todo lado
Desde o raiar do dia
Realizando milagres
Com tuas mãos de fada.
Do tanque para o fogão
O ventre redondo ao calor
Da lenha que fumegava
Nos lábios uma oração 
Enquanto fazias o pão
Nosso pão de cada dia.

Eu me lembro 
Teus cabelos 
Recolhidos às pressas
Presos por uma travessa
De madrepérola.
Se o fardo te pesava  
Jamais ouvi um protesto.
Á tardinha tu sentavas
E com agulha de mão 
Cerzias as roupas
Pregavas botão 
Amamentando o caçula 
Enquanto me ensinavas
No caderno a lição. 

Não te coube a tua casa
Não bastou a tua obra
Possuías tempo de sobra
Para o mundo visitar
Com tua faina ajudar.
Tantas pedras recolheste
Que outra morada fizeste
Esta que habitas agora.
E quando a vida me atordoa
Tua lembrança me acalma.
Gestos, palavras, sorrisos
Fragmentos de memórias 
São sentidos permanentes                      Gravados em minha alma.

  • Autor: Zaira Belintani (Offline Offline)
  • Publicado: 28 de Outubro de 2020 23:42
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 24

Comentários6

  • @(ND)

    Nossa, Zaira , mais que uma declaração de amor, o " para sempre em cada ação" lindo de se ler... Gratidão!

  • Zaira Belintani

    Fico muito feliz por sua manifestação, Neiva!
    Mãe é um assunto inesgotável!
    Fácil transformar em poesia.
    Abraços!

  • CORASSIS

    Belíssimo poema poetisa!
    Escreveu com maestria .
    Bravo!
    Abraço.

  • Elfrans Silva

    A minha está entre nós ainda. 86 anos vividos. Gravei uma canção pra ela.
    Os cabelos branquinhos. Entendo quando dizes que se lembra. Amor que jamais se esquece. Justa homenagem. Festas lembranças. Te parabenizo por nobres linhas.

    • Zaira Belintani

      Que bênção ter sua mãe ainda com você! A minha, mesmo depois de partir continua presente.
      Abraço, poeta!

      • Elfrans Silva

        Abraços Zaira. Alguns acham que elas nunca vão

      • lucita

        A minha era divertida, mesmo em meio a momentos difíceis.
        Vencia com o bom humor as rusgas da vida dura.

        • Zaira Belintani

          Acho que era o perfil das mulheres daquela geração. Sempre prontas para tudo sem tempo para reclamar da vida. Mulheres fortes de fato.

        • Eras

          Belo poema e homenagem, poeta.



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