PONTO DE INFLEXÃO
Apaixonados, nos entendíamos,
as palavras nem eram necessárias.
No último dia, olhares fundidos até a alma,
relutávamos em nos separar.
Tão de perto, eu distinguia raias verdes
e pontinhos faiscantes nos seus olhos.
Tão de perto, ouvia-lhe pulsar o coração
e aspirava-lhe o halito quente.
Pode alguém pedir mais à vida,
se respira em comum com seu amor,
e flutua nas águas do seu olhar?
Gentilmente, como quem oferece uma flor,
ele de leve beijou-me na face direita.
Foi a proposta de sempre: "Virias comigo?
Abandonarias teus rumos pelos meus?"
Minha resposta era sim, mas tive medo,
e meu ligeiro recuo foi um duro não.
Vi se apagarem os pontinhos de luz,
e desviar-se um olhar baço e triste.
Partiu. Nunca mais nos vimos.
Tantos anos...Hoje, no pergaminho
da face direita, tenho a ilusão de tocar
uma pequena área, lisa e tepida
que desencadeia doces recordações.
- Autor: Cecília Cosentino (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 2 de agosto de 2020 09:50
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 30
- Usuários favoritos deste poema: PB Almeida
Comentários6
Aí! Me emocionou com belo e triste poema. Realmente ter de se separar não é fácil, mas é a vida...ou a morte. Bom domingo!
obrigada, Marina.
Nossa, vc é demais., poeta.
Quase dá para se sentir o protagonista!
1 ab
Nelson, muito obrigada! Você sempre encontra as palavras que me fazem bem. Abraço
Muito lindo, Cecilia, ter tudo inscrito nos alfarrábios do corpo; gravado na memória... ah... memória... que o "alemão" nunca nos alcance...
Muito obrigada, Chico Lino! Abraço.
Gostei poetiza, sobre a falta de perenidade que nos afronta e nos desconsola.
Mesmo assim nos parece belo!
Obrigada, Carlos. A apreciação dos meus leitores me anima muito. Abraço.
Muito lindo, sinto pela protagonista, tudo que seria mas não foi.
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