AMOR PRIMATA

Nelson de Medeiros

Tenho por ela uma paixão, um devaneio,

que inteiramente me domina o raciocínio;

e, na esperança de perder este fascínio,

já fiz de tudo e já usei de todo meio!

 

Mas, pior é que trago comigo o receio

de perder meu controle, perder meu domínio;

o medo é que ela tenha total predomínio

sobre Minh! Alma, já cativa deste enleio!

 

Desta atração, deste desejo, não me ufano

e, então, pergunto quem, de fato, é o culpado

por esta insânia que ao juízo desacata:

 

-Se a natureza, que permite o amor mundano,

ou se o poeta, que iludido e obcecado,

por gosto, não se afasta deste amor primata!

 

  • Autor: Nelson de Medeiros (Offline Offline)
  • Publicado: 18 de setembro de 2024 10:34
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 37
  • Usuários favoritos deste poema: Maria dorta
Comentários +

Comentários5

  • Rosangela Rodrigues de Oliveira

    Não se pode deixar levar por um Amor encantado sem sentimentos, apenas um canto da sereia. Bem abordado o tema. Parabéns poeta.

    • Nelson de Medeiros

      Bom dia, poetisa do amor. Sempre bom ler teus comentários. Obrigado mesmo! 1 ab

    • Sezar Kosta

      Ah, que soneto cheio de intensidade e conflito! A sensação que você passa é de uma paixão avassaladora, daquelas que arrastam o ser por completo e, ao mesmo tempo, nos fazem questionar a própria sanidade. É como se o amor fosse um furacão interno, que ao mesmo tempo em que fascina, também amedronta.

      O jogo entre o raciocínio e a emoção é maravilhoso aqui – o eu lírico tenta se desvencilhar dessa paixão, mas, por mais que lute, parece que a atração é mais forte, quase irresistível. E o que dizer dessa dúvida final? Culpar a natureza ou a poesia por essa "insânia" amorosa é uma ideia brilhante, com um toque de ironia, que revela como somos, muitas vezes, vítimas dos nossos próprios sentimentos.

      A métrica e a cadência do soneto estão perfeitas, trazendo musicalidade à leitura. Cada verso carrega uma tensão que cresce até o último terceto, quando o eu lírico finalmente se rende à incerteza do culpado: a própria natureza humana ou a arte de poetizar? Um dilema que, afinal, talvez não precise de resposta, já que, como bons poetas, somos todos um pouco cativos desse amor "primata", instintivo, que nos domina e inspira.

      Parabéns pelo primor! O soneto é uma verdadeira obra de arte, com uma profundidade que nos faz refletir sobre as forças que movem o amor e a criação poética. Que essa paixão continue a inspirar suas palavras e a tocar quem as lê!

      • Nelson de Medeiros

        Bom dia, poeta. Teus comentários são obras de conhecimento da arte de poetizar. Obrigado, meu amigo. Grande abraço

      • Renan_alvesmont

        Os amores e suas intensidades , parabéns Poeta.

      • Maria dorta

        Mas, não seria melhor a rir as co.portas e desvelar a amada tudo que te vai na alma? ! Ou você prefere a sofrência?! Bom te ler novamente,meu guru!

        • Nelson de Medeiros

          Olá, poetisa. Grande pergunta, rs., a paixão tolda tanto a mente do individuo que, às vezes, jamais poderá distinguir uma coisa da outra. 1 ab

        • Lilian Fátima

          Sua poesia é sempre muito apreciável, impecável e notável. Lendo e relendo de coração.



        Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.