Nelson de Medeiros

AMOR PRIMATA

Tenho por ela uma paixão, um devaneio,

que inteiramente me domina o raciocínio;

e, na esperança de perder este fascínio,

já fiz de tudo e já usei de todo meio!

 

Mas, pior é que trago comigo o receio

de perder meu controle, perder meu domínio;

o medo é que ela tenha total predomínio

sobre Minh! Alma, já cativa deste enleio!

 

Desta atração, deste desejo, não me ufano

e, então, pergunto quem, de fato, é o culpado

por esta insânia que ao juízo desacata:

 

-Se a natureza, que permite o amor mundano,

ou se o poeta, que iludido e obcecado,

por gosto, não se afasta deste amor primata!