O CANTO É PARTIDO. A LIRA QUEBRADA

Jucklin Celestino Filho

 

Era linda a moça,

de uma beleza ímpar.

Ao vê-la, o jovem poeta

flechado pelo Cúpido,

de pronto, apaixonou-se,

e em versos e prosa,

declarou seu amor, à bela.

Disse-lhe a jovem,

em paga ao seu afeto:

- Poeta, o teu sonhar - é vago;

Teu versejar - utópico,

por demais simplório;

Teu olhar - opaco.

Declinas, nos pueris versos teus,

ilusões, delírios,

impondo às pessoas,

um sonhar

que é louco,

em sendo a vida,

continua luta.

 

Declino do amor

a mim jurado.

Com versos pobres,

e ilusão apenas,

delírios de poeta,

não podes pagar meu preço.

Não dá corda ao vento,

fantasiosa lira,

porque o sonho,

não substitui o pão;

a poesia, não enche barriga.

É preciso viver

na senda de um viver

que é refrega no dia a dia:

a incessante labuta

para ganhar

o pão, com o suor do rosto.

Ninguém vive de brisa.

 

Vi, no semblante

do valoroso vate,

a força hercúlea,

que do seu ser, desprendia

para conter-se,

ante a vergasta

que recebera no lombo,

logo daquela a quem,

guardava afeto.

Com as feições abatidas,

qual punhal

lhe cortando a carne,

a voz trémula,

expressara-se:

- Não sejas, tola, criatura,

no teu perolar insano.

Escuta, o que eu não quisera

poder dizer-te,

entretanto, a contingência

do momento inusitado,

obriga-me, a tal

proceder impróprio.

Creia, criticar-te,

não quereria,

até porque, te quero,

e te querendo tanto,

mesmo vergastado

por teu desprezo,

não me moveria

para molestar-te.

Mas do encanto,

quebrou-se o elo

que me ligava a ti,

em delirante anelo.

Graças ao Criador,

desperto agora

do pesadelo.

Olho em meio

ao meu peito -

vazio, tristonho,

qual o poema de decepção

que ora componho.

Por fim, entendo, nesta hora

o drama: não tem o dom

de gostar da natureza,

quem não ama o belo.

Relegas a poesia,

porque tens o peito frio,

a alma vazia,

fechados ao amor, à fantasia.

Não te vás comover,

frases bonitas,

belas poesias,

nem as mais

encantadoras melodias,

posto que está tua alma,

envenenada pela fortuna.

 

Não se te dás que te arrogues,

indiferente ao sonho, à poesia?!

Vês, em tudo há poesia.

Basta senti-la

em cada nuance

que se te apresenta:

Na “flor,

que o vento balança”,

em cada novo alvorecer,

no sorriso de uma criança,

na natureza,

concerto de encanto

e de beleza,

magia palpitante,

em constante festa,

nos pássaros

em matinal seresta,

na fonte murmurante,

no pôr-do-sol, encimado

por nuvens rubras,

enfeitando o horizonte.

 

Tudo é poesia.

Não se me dá,

nem me consome,

princesa Jandira,

viver arreigado

ao materialismo desembestado,

no afã de amealhar dinheiro

na roda da fortuna.

Não me apetece

cobiçar rico milhaeiro.

Não me interessa, tal

mimo, que não mereça,

apenas a mim carece,

de bom grado receber,

o que me reservou o destino,

sem correr em desatino,

em busca do vil metal.

Juntar tesouro na terra pra quê?

Não o levarei para o túmulo.

 

Sei, e muito lamento

que o dinheiro

cubra os anseios

de terminadas pessoas,

e, em se tratando de uma

em especial,

que se tem como princesa,

sempre com a tocha

do orgulho acesa,

representa tudo -

a pérola da ostentação.

Quanto a mim, reputo,

como vaidade de tolo.

Pra quê juntar tanto ouro?

É estupidez, contrassenso.

Idiotice tamanha!

A campa

a ninguém rejeita.

Mas não aceita

nenhuma barganha:

Nem ouro, nem incenso,

nem mirra.

 

Há de se ter na vida,

relegando a ambição desmedida,

um pouco de lazer.

E como disse Jesus Cristo:

“Nem só de pão

vive o homem”.

Não sabes, Jandira,

o poeta é arquiteto

mágico da palavra.

De uma centelha

do pensamento,

acende-se nele,

a chama da ideia,

e num relance de magia,

cria um mundo

de ilusões fantástico.

Na imaginação viaja.

Vai longe, muito longe,

nas asas da fantasia.

Princesa, meus versos,

mesmo não sendo

a pérola que querias,

a safira que teus

olhos cobiçavam,

o colar de diamantes

que ambicionavas

para enfeitar-te o colo,

não são restos, dos restos!...

Posto que, a quantos encantara! ...

E ainda encanta

aqueles que amam

a cadência livre dos meus versos -

calando-lhes fundo na alma.

 

Enquanto desdenhas, Jandira,

meu versejar, outras hão,

que apreciá-los vão,

sem partir os versos,

sem quebrar a lira.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 
  • Autor: Poeta (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 24 de agosto de 2024 16:29
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 8
  • Usuários favoritos deste poema: Nelson de Medeiros
Comentários +

Comentários1

  • Lilian Fátima

    Poesia prenhe de intenções e sensações que somente um poeta consegue captar. Parabéns pela inspiração



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.