Era linda a moça,
de uma beleza ímpar.
Ao vê-la, o jovem poeta
flechado pelo Cúpido,
de pronto, apaixonou-se,
e em versos e prosa,
declarou seu amor, à bela.
Disse-lhe a jovem,
em paga ao seu afeto:
- Poeta, o teu sonhar - é vago;
Teu versejar - utópico,
por demais simplório;
Teu olhar - opaco.
Declinas, nos pueris versos teus,
ilusões, delírios,
impondo às pessoas,
um sonhar
que é louco,
em sendo a vida,
continua luta.
Declino do amor
a mim jurado.
Com versos pobres,
e ilusão apenas,
delírios de poeta,
não podes pagar meu preço.
Não dá corda ao vento,
fantasiosa lira,
porque o sonho,
não substitui o pão;
a poesia, não enche barriga.
É preciso viver
na senda de um viver
que é refrega no dia a dia:
a incessante labuta
para ganhar
o pão, com o suor do rosto.
Ninguém vive de brisa.
Vi, no semblante
do valoroso vate,
a força hercúlea,
que do seu ser, desprendia
para conter-se,
ante a vergasta
que recebera no lombo,
logo daquela a quem,
guardava afeto.
Com as feições abatidas,
qual punhal
lhe cortando a carne,
a voz trémula,
expressara-se:
- Não sejas, tola, criatura,
no teu perolar insano.
Escuta, o que eu não quisera
poder dizer-te,
entretanto, a contingência
do momento inusitado,
obriga-me, a tal
proceder impróprio.
Creia, criticar-te,
não quereria,
até porque, te quero,
e te querendo tanto,
mesmo vergastado
por teu desprezo,
não me moveria
para molestar-te.
Mas do encanto,
quebrou-se o elo
que me ligava a ti,
em delirante anelo.
Graças ao Criador,
desperto agora
do pesadelo.
Olho em meio
ao meu peito -
vazio, tristonho,
qual o poema de decepção
que ora componho.
Por fim, entendo, nesta hora
o drama: não tem o dom
de gostar da natureza,
quem não ama o belo.
Relegas a poesia,
porque tens o peito frio,
a alma vazia,
fechados ao amor, à fantasia.
Não te vás comover,
frases bonitas,
belas poesias,
nem as mais
encantadoras melodias,
posto que está tua alma,
envenenada pela fortuna.
Não se te dás que te arrogues,
indiferente ao sonho, à poesia?!
Vês, em tudo há poesia.
Basta senti-la
em cada nuance
que se te apresenta:
Na “flor,
que o vento balança”,
em cada novo alvorecer,
no sorriso de uma criança,
na natureza,
concerto de encanto
e de beleza,
magia palpitante,
em constante festa,
nos pássaros
em matinal seresta,
na fonte murmurante,
no pôr-do-sol, encimado
por nuvens rubras,
enfeitando o horizonte.
Tudo é poesia.
Não se me dá,
nem me consome,
princesa Jandira,
viver arreigado
ao materialismo desembestado,
no afã de amealhar dinheiro
na roda da fortuna.
Não me apetece
cobiçar rico milhaeiro.
Não me interessa, tal
mimo, que não mereça,
apenas a mim carece,
de bom grado receber,
o que me reservou o destino,
sem correr em desatino,
em busca do vil metal.
Juntar tesouro na terra pra quê?
Não o levarei para o túmulo.
Sei, e muito lamento
que o dinheiro
cubra os anseios
de terminadas pessoas,
e, em se tratando de uma
em especial,
que se tem como princesa,
sempre com a tocha
do orgulho acesa,
representa tudo -
a pérola da ostentação.
Quanto a mim, reputo,
como vaidade de tolo.
Pra quê juntar tanto ouro?
É estupidez, contrassenso.
Idiotice tamanha!
A campa
a ninguém rejeita.
Mas não aceita
nenhuma barganha:
Nem ouro, nem incenso,
nem mirra.
Há de se ter na vida,
relegando a ambição desmedida,
um pouco de lazer.
E como disse Jesus Cristo:
“Nem só de pão
vive o homem”.
Não sabes, Jandira,
o poeta é arquiteto
mágico da palavra.
De uma centelha
do pensamento,
acende-se nele,
a chama da ideia,
e num relance de magia,
cria um mundo
de ilusões fantástico.
Na imaginação viaja.
Vai longe, muito longe,
nas asas da fantasia.
Princesa, meus versos,
mesmo não sendo
a pérola que querias,
a safira que teus
olhos cobiçavam,
o colar de diamantes
que ambicionavas
para enfeitar-te o colo,
não são restos, dos restos!...
Posto que, a quantos encantara! ...
E ainda encanta
aqueles que amam
a cadência livre dos meus versos -
calando-lhes fundo na alma.
Enquanto desdenhas, Jandira,
meu versejar, outras hão,
que apreciá-los vão,
sem partir os versos,
sem quebrar a lira.