Emanuele Sloboda

Transmutação

Quantos deuses invadiram meus desejos tão ambíguos, quantas tragédias construíram meus enlaces mais íntimos. Outrora me confessaram ser pagã e dona de muitas impurezas e, por dezenas de séculos, provei ser o objeto mais amargo. Amores tantos enganados, destruídos, vingados. E a cada justiça controversa meus receios devoravam o amargor da glória concebida. Anula-se, a cada final de um ciclo, aquela paz tão almejada. A verdadeira face foi se perdendo, tornando-se uma cratera de contraversão.  Oh, os amores límpidos! Esfumaçaram-se na vergonha e orgulho. De covardias e coragens tão intensas, fio a fio fincou-se a desumanidade em meu peito. Perdão, perdão aos meus erros mais sórdidos guiados pela mais ampla tristeza e solidão. Meus algozes tão distintos, em terras tão vastas, tornaram-se anjos e eu um servo da mesquinhez. Meu esmero tão errôneo sempre buscou o caminho sem volta. Tornei-me meu próprio algoz.

  • Autor: Emanuele Sloboda (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 11 de Julho de 2020 11:32
  • Comentário do autor sobre o poema: Poema retirado de meu primeiro livro, Melindre. (Litteris Editora/2015)
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 16

Comentários3

  • Marcos Valerio de Souza

    Nesse emaranhado de incompreensão, é possível descobrir que, muitas vezes, o que precisamos, é simplesmente fugir de nós mesmos.
    Bela e intrigante poesia. Parabéns!

    • Emanuele Sloboda

      E aí vem a contradição... Fugir nos salva ou nos edtagna no caminho da evolução?

    • Cecilia

      Emanuele, você maneja com maestria a nossa linda lingua portuguesa, de forma clara, concisa e bela. O denso conteúdo acrescenta ao texto mais valor ainda. Parabéns, grande escritora! Beijo.

      • Emanuele Sloboda

        Poxa! Obrigadao! Tem imenso valor cada palavra dita em seu comentario! Te desejo muita paz e luz!

      • Nelson de Medeiros

        Muito bem escrito. Parabens poeta.
        1ab

        • Emanuele Sloboda

          Obrigada por degustar! Alimenta a alma!



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