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Emanuele Sloboda

Transmutação

Quantos deuses invadiram meus desejos tão ambíguos, quantas tragédias construíram meus enlaces mais íntimos. Outrora me confessaram ser pagã e dona de muitas impurezas e, por dezenas de séculos, provei ser o objeto mais amargo. Amores tantos enganados, destruídos, vingados. E a cada justiça controversa meus receios devoravam o amargor da glória concebida. Anula-se, a cada final de um ciclo, aquela paz tão almejada. A verdadeira face foi se perdendo, tornando-se uma cratera de contraversão.  Oh, os amores límpidos! Esfumaçaram-se na vergonha e orgulho. De covardias e coragens tão intensas, fio a fio fincou-se a desumanidade em meu peito. Perdão, perdão aos meus erros mais sórdidos guiados pela mais ampla tristeza e solidão. Meus algozes tão distintos, em terras tão vastas, tornaram-se anjos e eu um servo da mesquinhez. Meu esmero tão errôneo sempre buscou o caminho sem volta. Tornei-me meu próprio algoz.