A VIAGEM
Tarde dolente cor de cinza, com chuvinha fina, pegadeira, suscitando lembranças que se juntaram através do tempo. Pela janela do carro já nem percebo postes e pessoas que passam em disparada. Quero fugir da realidade, desprender da alma o fardo de responsabilidade que a vida me confiou e sob o qual sucumbo a cada instante...
Ganho a estrada, busco o campo. À medida que avanço inexplicável torpor me invade a mente... Paro de pensar e toda a minha vida desfila ante meus olhos. Fenômeno desconhecido que, longe de inspirar medo me enche de tranquilidade.
Transportam-me a outra paisagem... A chuva cessara dando lugar à claridade do sol que entremeava seus raios dourados sobre a mata molhada.
Sobre a encosta de pequena colina, arvoredo florido balouçando ao sabor da brisa da tarde emprestava aspecto deslumbrante à clareira acolhedora, verdadeiro oásis de prodigioso bem estar, fazendo-me recordar, de imediato, os famosos bosques de Viena sobre os quais tanto aprendera em minha juventude.
Sensação de paz íntima e de respeito ao desconhecido se aninharam no meu peito, dando-me a impressão de que penetrara mundo diferente... A Shangri-lá dos meus sonhos, talvez...
Foi num átimo de segundo, se tanto, que eu entendi que em algum lugar do espaço se encontra gravada, passo a passo, toda a trajetória de nossa milenar caminhada na busca da perfeição, porque não somos, nesta vida, folhas soltas ao sabor dos ventos...
Somos o que pensamos e a cada momento mudamos a rota do destino através de nossos atos e pensamentos, embora a caminhada aponte sempre o rumo norte. Jamais estacamos na estrada porque a cada desvio que buscamos, mesmo que nos atrase o passo, lá na frente sempre a encontraremos novamente e retomaremos a jornada...
E, nesta centelha de tempo, num segundo incomensurável, eu compreendi que Deus é a causa misteriosa de tudo quanto existe e que eu não entendo. Manancial de todas as formas de vida é o supremo consolo do infortúnio e a esperança de riqueza do pobre. Essência do próprio direito é a fonte de justiça do oprimido. Símbolo eterno da paz é o rumo de todas as criaturas na busca da Luz que dissipa todas as sombras...
Nelson de Medeiros.
- Autor: Nelson de Medeiros ( Offline)
- Publicado: 11 de julho de 2020 09:24
- Comentário do autor sobre o poema: Uma viagem obrigatória no auge da pandemia.
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 15
Comentários5
Reflexivo e uma verdadeira Viagem Poética! (É muito Bom Viajar Poetando, pois não precisa sair do lugar viajando) Paz e Bem Poeta
Nelson, gostei muito de conhecer a sua prosa perfeita, gostosa de ler. Esse caminhar pela natureza, chegando a um momento de revelação, é uma descrição maravilhosa. Obrigada. Abraços.
Nossa sem comentário. Lindo texto é pra ler e refletir. Parabéns Poeta.
Realmente, meu amigo, nossas vidas não são folhas soltas ao sabor dos ventos... O verdadeiro sentido ainda nos foge à razão, mas sabemos que somos eternos, precisamos prosseguir e sobretudo confiar em Deus...
Grande reflexão!
Abraço!
que poema rico... lindo! parabens!
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