Letícia Alves

O barquinho que vai e cai



Há um barquinho bem longe no horizonte,
divagando como eu nos meus sonhos.

O barquinho está vazio,
então confirmo que ele de fato está vagando.
O reflexo da água desenha um
espectro do barco diferente –
mais terno e claro, mais raso.

Na superfície só se sobrepõe o raso.
Contemplo a beleza, mas a acho sem fôlego,
não me intui nada. Falta a forma significante.

Aprofundo-me no barco.
A imensidão do seu vazio é o que mede o seu tamanho.
A imensidão do barco é apenas o seu nada simplório.
Ele diz muito, como quem só paira sobre a água.

Há um barco. E ele faz parte do todo.
Da água, da árvore que cria sombra
e do dirigente inexistente.

Há um barco,
que no reflexo é só um barquinho.
O barco sou eu. 

Comentários2

  • CORASSIS

    Somos como barquinhos neste oceânico mundo!
    poema incrível com bela musica , bom ler te nobre poetisa .
    Abraços.

    • Letícia Alves

      De fato o somos.
      Muito obrigada pelo singelo elogio!

      Sempre bom ler as suas apreciações.

      Abraços iluminados!

    • Antonio Olivio

      Saudade de mergulhar no seu universo encantador , sua poesia é lindamente profunda e especialmente Bela.
      Somos este barco neste reflexo da nossa própria existência, ao mesmo tempo que navegamos para ver o mundo , navegamos para dentro mais de nós...

      • Letícia Alves

        Muitíssimo obrigada pelo seu terno comentário, querido!
        Fico extremamente feliz ao saber que sentes a minha poesia.

        Realmente somos todos este barquinho, navegando para o interior do mundo e do nosso próprio mundo também. Gratidão pelo complemento à ideia.

        Grandes abraços cheios de luz!



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