Há um barquinho bem longe no horizonte,
divagando como eu nos meus sonhos.
O barquinho está vazio,
então confirmo que ele de fato está vagando.
O reflexo da água desenha um
espectro do barco diferente –
mais terno e claro, mais raso.
Na superfície só se sobrepõe o raso.
Contemplo a beleza, mas a acho sem fôlego,
não me intui nada. Falta a forma significante.
Aprofundo-me no barco.
A imensidão do seu vazio é o que mede o seu tamanho.
A imensidão do barco é apenas o seu nada simplório.
Ele diz muito, como quem só paira sobre a água.
Há um barco. E ele faz parte do todo.
Da água, da árvore que cria sombra
e do dirigente inexistente.
Há um barco,
que no reflexo é só um barquinho.
O barco sou eu.