Lú Galvão

Identidade

Galega sarará,

assim  era identificada

e como incomodava!

Tudo que não queria ser

Porque a sociedade  rotulava

Como anormal feio diferente

Mostrando claramente

A necessidade de se enquadrar.

 

Mãe de sarará sofria

Pra não levar título de desleixada

Entre suas pernas sempre fazia

Momentos de tortura e agonia

Na cabeça de quem nada entendia.

Pra que tanta dor

Se nem bonito ficava

Depois de tão esticado

Amarrado e acomodado

Se o seu espírito não harmonizava

Com aquela disciplina forçada.

 

O tempo passava

O cabelo esticava

Identidade negada

que começava pela cabeça.

Você não se reconhece

No seu crespo cacheado

Porque dizem que não combina

Que não te aceitam desse jeito

Ou você  dá um jeito ou fica fora

Da perversa roda posta

De uma sociedade cheia de preconceito.

 

O braço da mãe já não aguentava

Tanto volume tanto embaraço

Você cresce e acha mais fácil

Em um salão como passe de mágica

Tornar liso os seus cachos

Saindo de lá enquadrado

Pra viver na sociedade

Linda sem identidade.

 

E por muito tempo

Acomodada acostumada

Em um espelho ver outra pessoa

Até o dia que decide

Que aquela não é você

E por mais que o mundo imponha

Você é o que está dentro de você.

 

Não se pode ser feliz

Vivendo uma figura inventada

Reconhecer-se

Empoderar-se

Passa por luta e resistência

Contra uma  sociedade hipócrita

Que insiste em unificar

Padrão de beleza, vida e comportamento.

 

 

  • Autor: Lu Galvão (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 27 de Junho de 2020 10:26
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 17

Comentários2

  • Levy

    Ótima poesia! Sei exatamente como é a sensação de ter os cachos descriminados, sendo homem era mais fácil só raspar, mas curto deixar o meu black power pois foi assim que nasci.
    É fácil olhar pra fora e falar que o cabelo é ruim, difícil é olhar pra dentro e ver que tá pior ainda...

  • Nelson de Medeiros

    Poxa! Que ótimo porema cantado em versos que a gente ouve cá dentro.
    1ab



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