Galega sarará,
assim era identificada
e como incomodava!
Tudo que não queria ser
Porque a sociedade rotulava
Como anormal feio diferente
Mostrando claramente
A necessidade de se enquadrar.
Mãe de sarará sofria
Pra não levar título de desleixada
Entre suas pernas sempre fazia
Momentos de tortura e agonia
Na cabeça de quem nada entendia.
Pra que tanta dor
Se nem bonito ficava
Depois de tão esticado
Amarrado e acomodado
Se o seu espírito não harmonizava
Com aquela disciplina forçada.
O tempo passava
O cabelo esticava
Identidade negada
que começava pela cabeça.
Você não se reconhece
No seu crespo cacheado
Porque dizem que não combina
Que não te aceitam desse jeito
Ou você dá um jeito ou fica fora
Da perversa roda posta
De uma sociedade cheia de preconceito.
O braço da mãe já não aguentava
Tanto volume tanto embaraço
Você cresce e acha mais fácil
Em um salão como passe de mágica
Tornar liso os seus cachos
Saindo de lá enquadrado
Pra viver na sociedade
Linda sem identidade.
E por muito tempo
Acomodada acostumada
Em um espelho ver outra pessoa
Até o dia que decide
Que aquela não é você
E por mais que o mundo imponha
Você é o que está dentro de você.
Não se pode ser feliz
Vivendo uma figura inventada
Reconhecer-se
Empoderar-se
Passa por luta e resistência
Contra uma sociedade hipócrita
Que insiste em unificar
Padrão de beleza, vida e comportamento.