UIARA
Na noite enluarada, cheia de sortilégios,
um homem rema, na sua piroga.
Vem de longe uma canção dolente
deslisando, escorrendo
pelo espelho do rio.
Já envolto na doçura pegajosa da cantiga,
o homem lembra da Mãe d'água.
Ela encanta pescadores
navegando sozinhos, em noites de lua.
Uiara canta, em noites claras,
penteando longos cabelos verdes.
Canta, quando sai nuinha da água
e sua pele é mais alva que a lua.
Os seus olhos, de reflexos dourados,
seduzem todos, de moleques a velhinhos.
O homem sente perigo rondando
mas a canção já lhe circula nas veias
e amolece os ossos.
Salva-se quem foge, para bem longe do rio.
O homem sabe. Mas com toda a força
do braço impele o barco
no rumo da cantiga, do corpo alvo,
dos cabelos verdes, dos olhos amarelos.
Na manhã ensolarada, despida de mistérios,
no liso do rio deriva uma piroga vazia.
- Autor: Cecília Cosentino (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 21 de junho de 2020 08:31
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 26
Comentários6
Cecília, muito interessante seu poema, um ar folclórico muito bonito e bem contado.
Abraço
Hébron. muito obrigada. moro em Olimpia, SP. onde há em agosto um grande festival de folclore. de vez em quando um aspecto nos encanta, a gente escreve. A mãe d'água é parente das sereias, mitos milenares.
Bem folclórico e misterioso. Muito bonito.
É folclore mesmo. Aqui em Olimpia, SP, gostamos muito. Ulisses amarrou-se ao mastro do navio para não ir atras das sereias. Acho lindo o povo sertanejo crer nos mitos derivados dos antigos gregos.
Bonito poema,Cecilia. O fascinio superando a razão !
O mito é antigo, milenar. E muito encontradiço no sertão
Os mitos são fonte de inspiração para os poetas.Tenho um que gosto muito intitulado " A lua, o poeta e o lobisomem " .Qualquer dia desses publico.
Poxa! que portentoso talento vc tem, poeta. Vivo sempre os seus poemas. São claros, feitos com extrema sensibilidade ,ortogragia super correta. Grande poetiza.
1 ab e minha admiração
Obrigado, Nelson. Esse é dos meus mitos prediletos. Acho que até teria gostado de ser uma Uiara! Grande abraço!
Excelente narração poética de um ato dos ribeirinhos ! (Poetisa o Termo "PIROGA", me fez lembrar da Escolinha do Professor Raimundo do Fantástico Chico Anísio "Humorista", com Dona Bela e o SÓ PENSA NAQUILO ) rsrsrsrsr ! Não fique zangada Linda Poetisa Beijussss Paz e Bem !
Vandinho. São Paulo está muito civilizado, não tem mais mães d'agua. Queria poder procurá-las nos grandes rios do norte... Obrigada por ter lido e comentado meu texto.
Uma beleza seu poema , Cecília, que me encanta devido a riqueza de detalhes, de imagens que se apresentam aos meus olhos, de uma forma muito nítida. Beijo, poetisa, te admiro!
Muito obrigada, Maria Lúcia. É uma felicidade ter vivido muito. Abraço.
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