A madrugada, ainda em penumbra, sequer me lembro, mas sinto que não era o começo.
Ao longe, com sede no meu esquecimento, as primeiras luzes anunciavam a manhã num choro de despertar do dia.
As luzes denunciam as formas que se revelam em novidade de vida, e as sombras se esquivam da luminosidade, sem esconder as silhuetas, tantas vezes disformes, da realidade palpável.
O espreguiçar era irresistível e me fazia perceber meus limites e o fardo a desafiar a criatividade de sobreviver.
O dia ainda engatinhava, entre agitos e aflição, sentimentos aflitos e agitação, a ambição por viver era inexorável força, como a correnteza de um rio...
Em face a tantas novidades, tantas cores e formatos, com a sensação de uma estranha nostalgia, eu começava a tatear o que era alcançável pelas minhas mãos, mas ansiava por tocar o que estava ao alcance do olhar, na infantil percepção do imponderável em sementes de sonhos ainda a germinar.
Ainda era manhã e já conseguia me arrastar, no entanto, sem a plenitude da coordenação, em razão das limitações de um corpo ainda tenro, frágil e dependente dos mais comezinhos cuidados dos seres menos infantis que me guardavam.
Aos poucos a minha consciência vai brotando, aflorando discernimento, mais rapidamente do que o meu desenvolvimento físico, identificando minha individualidade e muitas necessidades.
Ainda muitas novidades, muitas carências e dependências, muitas dúvidas e inocência, aprendi a caminhar e a compreender muitas palavras que me trazem entendimento como a luz do sol já distante do horizonte a clarear o dia, mas careço de colo e cuidado.
Sinto uma sensação de abrir janelas para me arejar com a brisa da vida, são experiências, são descobertas de afetos, cheiros, sentidos e dores, são adejos da lúdica imaginação e a fixação de raízes que ao contrário de imobilizar, podem libertar e ser o mapa de origem e destino, são tantos vínculos em surgimento a serem levados para o resto das vidas que me sinto um infinito.
Vejo, a manhã esboça um aceno de despedida, deixando aromas e rastros de lembranças e saudades do que era real e imaginário de um tempo onde era tudo possível e simples, singelo e desafiante, com a força da natureza embalada na doçura de um espaço e de uma época quase perdidos nas minhas memórias pueris...
- Autor: Hébron (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 6 de janeiro de 2022 19:33
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 35
Comentários5
A nostalgia presente, num crescimento de cuidados e saudades, que as janelas se abram para os cuidados que a vida lhe proporciona, poeta! Viva a vida, viva os devaneios, viva a criatividade poética...
Neiva, sua presença, o prestígio da sua leitura e gentil comentário me enchem de alegria. É como vc mesmo disse, é a realização de quem escreve.
Abraço, amiga querida
As lembranças da infância, saudosa época. Lá podemos ir de fez em quando para renovar a vida. Um belo texto. Parabéns.
Cecil, muito obrigado por sua leitura e comentário! Fiquei muito feliz!
Abraço
chego aqui depois depois de uns dias difíceis e vejo sua crônica.
Me deu vontade de após ler a primeira vez, voltar e li novamente os parágrafos, do ultimo para o primeiro.
Numa leitura decrescente desfrutei suas "fases" observando que a coerência na escrita é evidente e valoriza muito sua linha poética.
Nostalgia e vivacidade evidentes na sua obra !
Parabéns grande autor!
Sou sempre grato por sua amizade e consideração, Lucita! Esse texto é o primeiro. A intenção é escrever até o ocaso do dia e entranhas da noite...
Abraço
Meus sinceros PARABÉNS, pelas Primaveras hoje completadas, amigo e camarada Hébron. Grande abraço!
Obrigado, meu poeta camarada!
Abraço
https://meuladopoetico.com/mostrar-poema-21916
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