Cecilia

MAKTUB

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Aos dezessete me apaixonei por um colega.      K tinha os olhos magníficos e os nobres sentimentos da gente árabe.    Não vem ao caso, hoje, porque não deu certo, naquele tempo.   Ambos sofremos, tudo passa...  Perdemos as coordenadas um do outro, a vida seguiu seu curso.

 Meio século depois, um dos poemas que lhe fiz foi escolhido no programa “Poemas nos ônibus e nos trens”, e circulou por um ano em Porto Alegre.   Recebi o livrinho e o cartaz do poema.  Em vão procurei K pela internet, na sua cidade de origem, para enviar-lhe o cartaz.  Uma lembrança...

A vida rolou mais muitos anos, a comunicação se expandiu, a pandemia nos segregou. Arrumando gavetas, encontrei o cartaz.   Procurei mais, localizei sua gentil sobrinha, que me deu notícias: K falecera há vinte anos, repentinamente.     Das três filhas de K, a do meio se chama Cecília.   Uma lembrança...

Soube, com surpresa, da homônima.  Nunca penetrei nos arcanos de K, nem mesmo quando convivíamos na mesma sala.   Não o conhecia bem, não tenho direito de imaginar coisas.  Tudo o que deixamos para trás se perde nas areias do tempo.   Maktub!

  • Autor: Cecília Cosentino (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 14 de Setembro de 2021 14:11
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 19

Comentários5

  • Cecilia

  • Altofe

    Obrigado por compartilhar sua história conosco de uma forma tão primorosa e com o profundo ensinamento que carrega. Mas fato de eu apreciar sempre seus textos não creio que seja porque "já estava escrito..." é porque tenho bom gosto. (risos). Abs.

    • Cecilia

      Obrigada, José. Sua leitura e apreciação sempre me fazem bem, mesmo que se trate de uma historinha tão despretenciosa. Já raspei o fundo do baú de recordações... tenho que capririchar para merecer o seu bom gosto. Grande abraço

    • Edla Marinho

      Que história interessante!
      Acho que todo mundo tem alguma história do passado, principalmente da adolescência, para recordar, não importa se foi bem ou mal vivida, não é?
      Linda tarde, querida!
      Meu abraço.

      • Cecilia

        Obrigada, Edla. Acertei no terceiro, fui muito feliz. Mas o primeiro e o segundo amores coloriram a mocidade, e eu os guardo num lugar especial do coração. Grande abraço.

      • Menino e a Lua

        Historia muito boa! É incrível pensar que a filha de "K" possa ser uma lembrança que ele tenha guardado de você. Enfim eu escrevo poesias para "Lua" esperando que ela leia todas um dia sabendo de tudo que penso sobre ela.

        Então como gosto de historias assim, terei para mim que sim é uma lembrança.

        Abraços!

        • Cecilia

          Menino, obrigada! Vocês me darem. atenção nessas pequenas histórias é uma grande alegria. Abraço.

        • Maximiliano Skol

          “Maximiliano, encontrei-me inteira nos seus lindos versos. Ainda hoje, presa em casa pela idade e a pandemia, vejo as novelas turcas, procurando pedaços de uma figura perdida no século passado..Abraço”

          Está aqui, querida Cecília, uma confissão durante o seu comentário sobre o meu soneto ERREI (fevereiro 2021). O seus ternos dezessete anos perduram sob o jugo de uma feliz lembrança. Infeliz é a alma vazia de saudade. Você na sua busca se redimiu com a sua homônima Cecília, marca de uma saudade correspondida.
          Fico feliz cm o desfecho da sua busca.
          Sua alma é riquíssima e você sabe distribuir essa riqueza.
          Beijos.

          • Cecilia

            Maximiliano tenho medo das suas pinças cirúrgicas, que pescam, lá longe, retalhinhos de recordações...Fiquei emocionada com o seu comentário. Como você, também leio nas entrelinhas, sou grata e feliz com o carinho com que você lê meus textos. Beijos



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