Cecilia

MAKTUB

MAKTUB

Aos dezessete me apaixonei por um colega.      K tinha os olhos magníficos e os nobres sentimentos da gente árabe.    Não vem ao caso, hoje, porque não deu certo, naquele tempo.   Ambos sofremos, tudo passa...  Perdemos as coordenadas um do outro, a vida seguiu seu curso.

 Meio século depois, um dos poemas que lhe fiz foi escolhido no programa “Poemas nos ônibus e nos trens”, e circulou por um ano em Porto Alegre.   Recebi o livrinho e o cartaz do poema.  Em vão procurei K pela internet, na sua cidade de origem, para enviar-lhe o cartaz.  Uma lembrança...

A vida rolou mais muitos anos, a comunicação se expandiu, a pandemia nos segregou. Arrumando gavetas, encontrei o cartaz.   Procurei mais, localizei sua gentil sobrinha, que me deu notícias: K falecera há vinte anos, repentinamente.     Das três filhas de K, a do meio se chama Cecília.   Uma lembrança...

Soube, com surpresa, da homônima.  Nunca penetrei nos arcanos de K, nem mesmo quando convivíamos na mesma sala.   Não o conhecia bem, não tenho direito de imaginar coisas.  Tudo o que deixamos para trás se perde nas areias do tempo.   Maktub!