Nelson de Medeiros

A UMA PROSTITUTA



A UMA PROSTITUTA

 

Uma vida inteira não apaga um instante...

Eu era jovem, imponente, arrogante;

Narciso errante a ofuscar o abajur lilás!

As cortinas do quarto, a renda albina

da cama , eram de elegância rara e fina...

O mais excitante quadro que eu vi inda rapaz!

 

Era  Samira a mais bela do imenso lupanar

que eu buscava na ânsia louca de amar

e que aos meus pés se prostrava qual escrava!

Os seus seios?! Duas frutas, duas peras liriais...

E nas pontas duas pedras rosadas, magistrais,

que a natureza  meu sentido embriagava!

 

 

Seus cabelos?! Ah! Seda pura de brocados

a rolar por seu colo em contornos delicados

colorindo a sua pele como  trigo!

Tinha o corpo de donzela, das vestais

da antiga Roma, de belezas sem iguais;

uma miragem! Uma deusa do Egito antigo!

 

 

O tempo passou e outro dia eu vi Samira...

Ah! não era a mesma que na cama eu vira

como, de todas,  a mais bela e mais astuta!

E triste, então, a contemplei por um momento...

Pele enrugada, cabelos brancos, rosto macilento,

me indaguei: Como amei tão estranha prostituta?

 

23.10.2006

  • Autor: Nelson de Medeiros (Offline Offline)
  • Publicado: 30 de Abril de 2020 08:58
  • Comentário do autor sobre o poema: Poema idealizado ao passar por uma senhora que pedia esmola, exatamente no dia 23.10.2006. Reconheci-a dos tempos da juventude.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 55

Comentários7

  • Gislaine Oliveira

    Bravo!!!

  • SANTO VANDINHO

    Reflexivo e uma realidade geral! // "Toda Mulher é uma Prostituta do seu Homem" (Paz e Bem Poeta ! Abraços)

    • Nelson de Medeiros

      hehe. Pode até ser, poeta. Mas...

      1 ab e obrigado

    • CORASSIS

      Que imagens triste,os dias atuais desta mulher!
      Mas, ela está ... para sempre eternizada,
      neste maravilhoso soneto ,onde também a prostituta tem seu valor como humano.
      Parabéns, por retratar as qualidades!
      Bravo Nelson !

    • mundi87

      Devo dizer que fiquei decepcionada com o seu poema Nelson. A ser verdade o seu comentário do poema, sou da opinião que há certas coisas que se devem calar e não divulgar de uma forma "vulgar" e indecorosa. Acho que prostituta não rima com poesia, ou então porque não tambem considerar os que abusam das mulheres ou que são mais promíscuos que qualquer uma? Um pouco de sensatez, que sei que tem, estaria bem neste caso.

      • Nelson de Medeiros

        Pois é... É apenas um poema, nada mais. Mas, respeito a sua opinião, o seu pensamento e peço desculpas a vc e aos que pensam de forma diferente.

        1 ab

      • Sonia Rodrih

        Que história! A vida é feita de escolhas, pode-se escolher lavar o chão, dar faxina, cuidar de idosos ou de crianças, na impossibilidade de estudar e ter um diploma ou mesmo com ele, ela escolheu ser prostituta; poderia ter tido um futuro diferente? Acredito que sim, pela beleza e por outras qualidades, que por certo teria, mas ela fez sua escolha, não cabe aqui julgamentos. O poema nos leva a refletir sobre nossas escolhas. Os versos bem pontuados, embora com maestria poética, fez-me compadecer da triste sorte/escolha de Samira.

        Parabéns, Poeta!

        • Nelson de Medeiros

          Penso que é isto poeta Sonia. Historia de poeta que guarda todos os acontecimentos que marcaram sua vida ao longo da jornada. Nem sempre são lembranças agradáveis, mas, como você bem sabe não se controla o verso quando a ocasião se apresenta. Narrar fatos e pequenos detalhes que passaram ou passam em sua existência são as armas do poeta. Penso que é muito difícil fazer poesia em cima tão somente da fantasia. Admiro quem faz, mas eu não sei. Claro que nenhum demérito a qualquer pessoa que tem livre arbítrio para fazer o que quiser. Muito obrigado pelas palavras elogiosas as quais, lhes devolvo, pois que a recíproca é verdadeira.
          1 ab

          • Sonia Rodrih

            Concordo, os poemas, assim como a vida, nem sempre são flores, há os espinhos, e deles, não se pode fugir. Obrigada, pela recíproca!
            Abraço!

          • Chico Lino

            Nelson, a vida nos desgasta a todos, não importa a profissão que abracemos. Soa meio budístico, mas o importante é a caminhada. Esperava que no final o poeta se deparasse com um espelho... tente. Parabéns...

            • Nelson de Medeiros

              Pois é, poeta Lino. Só sei fazer poesia com base em alguma coisa real, algum fato real, alguma situação do cotidiano. Coisas simples, naturais que acontecem diuturnamente. Não se desmerece ninguém, mas, muitas vezes a vida nos mostra situações que nos reportam a cenas antigas vividas, muitas vezes, na juventude. Como um amor que se foi ou um amor que ficou tais cenas também são musas, pois que musa é tudo aquilo que nos leva a poetizar. Espelho-me sempre na vida para fazer poesia, embora os adereços sejam necessários para dar lógica e sentido ao que se quer passar.
              Valeu poeta.
              Obrigado
              1 ab.

              • Chico Lino

                Caríssimo Nelson, de forma nenhuma vi, no poema em comento, quaisquer intenção do poeta desmerecer a personagem de suas memórias, a minha intenção foi a de o poeta transigir e, de alguma forma, espelhar o tempo que por ele também passou. Lógico, a retratada, era a prostituta. Todos temos formas e maneiras de compor. O que senti foi a falta do tempo passando para o poeta. Foi o que tentei sugerir. Não consegui. Perdão!

              • Vilk Andrade

                Gostei muito ! Da pra sentir os mesmo sentimento do poeta.
                Retratar uma história vivida em poesia não é fácil. Parabéns meu amigo poeta.



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