Nelson de Medeiros

A UMA PROSTITUTA

A UMA PROSTITUTA

 

Uma vida inteira não apaga um instante...

Eu era jovem, imponente, arrogante;

Narciso errante a ofuscar o abajur lilás!

As cortinas do quarto, a renda albina

da cama , eram de elegância rara e fina...

O mais excitante quadro que eu vi inda rapaz!

 

Era  Samira a mais bela do imenso lupanar

que eu buscava na ânsia louca de amar

e que aos meus pés se prostrava qual escrava!

Os seus seios?! Duas frutas, duas peras liriais...

E nas pontas duas pedras rosadas, magistrais,

que a natureza  meu sentido embriagava!

 

 

Seus cabelos?! Ah! Seda pura de brocados

a rolar por seu colo em contornos delicados

colorindo a sua pele como  trigo!

Tinha o corpo de donzela, das vestais

da antiga Roma, de belezas sem iguais;

uma miragem! Uma deusa do Egito antigo!

 

 

O tempo passou e outro dia eu vi Samira...

Ah! não era a mesma que na cama eu vira

como, de todas,  a mais bela e mais astuta!

E triste, então, a contemplei por um momento...

Pele enrugada, cabelos brancos, rosto macilento,

me indaguei: Como amei tão estranha prostituta?

 

23.10.2006