A UMA PROSTITUTA
Uma vida inteira não apaga um instante...
Eu era jovem, imponente, arrogante;
Narciso errante a ofuscar o abajur lilás!
As cortinas do quarto, a renda albina
da cama , eram de elegância rara e fina...
O mais excitante quadro que eu vi inda rapaz!
Era Samira a mais bela do imenso lupanar
que eu buscava na ânsia louca de amar
e que aos meus pés se prostrava qual escrava!
Os seus seios?! Duas frutas, duas peras liriais...
E nas pontas duas pedras rosadas, magistrais,
que a natureza meu sentido embriagava!
Seus cabelos?! Ah! Seda pura de brocados
a rolar por seu colo em contornos delicados
colorindo a sua pele como trigo!
Tinha o corpo de donzela, das vestais
da antiga Roma, de belezas sem iguais;
uma miragem! Uma deusa do Egito antigo!
O tempo passou e outro dia eu vi Samira...
Ah! não era a mesma que na cama eu vira
como, de todas, a mais bela e mais astuta!
E triste, então, a contemplei por um momento...
Pele enrugada, cabelos brancos, rosto macilento,
me indaguei: Como amei tão estranha prostituta?
23.10.2006