Jessé Ojuara

RÉQUIEM DO CARNAVAL


Aviso de ausência de Jessé Ojuara
NO


O Pierrot apartado

da festa, chora abafado

Sua Colombina dançou.

Não a dança da alegria.

Não usava fantasia,

sua máscara ele tirou.

 

Antes foi pra lhe beijar.

Hoje lhe faltou até o ar.

Morreu a musa do Pierrot.

Tirou sua indumentária.

Vestiu negra mortalha.

A Colombina o deixou.

 

Não ouviu sua marchinha.

Uma penosa lagriminha,

no seu rosto triste rolou.

O bloco canta agonia,

uma triste melodia.

Marcha fúnebre com tambor.

 

Colorido Carnaval,

de outrora, fenomenal.

Hoje só uma lembrança.

A cor da vez é o preto.

De luto, em favela e gueto.

Sem Escola, Trio ou dança.

 

O enredo é a tristeza.

Por maldade da realeza.

Que nos salões comemorou.

O povo bem desolado.

Anda e chora ao seu lado.

Consolando o Pierrot.

 

O bloco da vacina,

o Rei Momo em triste sina,

não quis logo organizar.

Burlesco ele desdenhou,

fez piada, até receitou,

remédios para enganar.

 

Outros carnavais virão.

Eu lhe pergunto meu irmão

Qual será a sua fantasia?

A mesma de palhaço?

Essa já está um bagaço.

Ou vai fazer romaria?

 

Minha Escola e seu lamento:

UNIDOS DO SOFRIMENTO.

Sua história vou contar.

Não podemos esquecer.

Ver tanta gente morrer.

Ou tudo vai continuar.

 

Coloque o bloco na rua.

Essa festa já foi sua.

Expulsem esses caretas.

A praça é nossa, do povo.

Lute, cante e ria de novo.

Sejam pessoas porretas.

 

 

  • Autor: Jessé Ojuara (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 12 de Fevereiro de 2021 09:14
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 30

Comentários6

  • Jessé Ojuara

  • Neide Gama

    Quando Pierrot voltará a sorrir?
    Quando sua Colombina rasgará o manto da tristeza e secará as lágrimas do amado momesco?
    Quando o povo voltará a carnavalizar as suas dores?
    Ou viveremos das cinzas de uma quarta-feira que nos parece interminável?
    Em tempos pandêmicos, "que a Arte nos resgate, xeque-mate!"
    Parabéns, menino Ojuara...ao lê-lo nesses versos, viajei por instantes na dor do Pierrot e de toda a nossa gente.

  • Jessé Ojuara

    Neide,
    Seu comentário é uma poesia.

    Gratidão

  • Ema Machado

    O Pierrot Perdeu a fantasia, o que eles cultuam agora é o choro de todos os dias. Infelizmente... Belo e pertinente reflexão. Abraços,

    • Jessé Ojuara

      Agradeço e alerto sobre posterior alteração.

    • Jessé Ojuara

    • Claudia Casagrande

      Caramba!
      Fantástico.
      abraço



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