Jessé Ojuara

RÉQUIEM DO CARNAVAL

O Pierrot apartado

da festa, chora abafado

Sua Colombina dançou.

Não a dança da alegria.

Não usava fantasia,

sua máscara ele tirou.

 

Antes foi pra lhe beijar.

Hoje lhe faltou até o ar.

Morreu a musa do Pierrot.

Tirou sua indumentária.

Vestiu negra mortalha.

A Colombina o deixou.

 

Não ouviu sua marchinha.

Uma penosa lagriminha,

no seu rosto triste rolou.

O bloco canta agonia,

uma triste melodia.

Marcha fúnebre com tambor.

 

Colorido Carnaval,

de outrora, fenomenal.

Hoje só uma lembrança.

A cor da vez é o preto.

De luto, em favela e gueto.

Sem Escola, Trio ou dança.

 

O enredo é a tristeza.

Por maldade da realeza.

Que nos salões comemorou.

O povo bem desolado.

Anda e chora ao seu lado.

Consolando o Pierrot.

 

O bloco da vacina,

o Rei Momo em triste sina,

não quis logo organizar.

Burlesco ele desdenhou,

fez piada, até receitou,

remédios para enganar.

 

Outros carnavais virão.

Eu lhe pergunto meu irmão

Qual será a sua fantasia?

A mesma de palhaço?

Essa já está um bagaço.

Ou vai fazer romaria?

 

Minha Escola e seu lamento:

UNIDOS DO SOFRIMENTO.

Sua história vou contar.

Não podemos esquecer.

Ver tanta gente morrer.

Ou tudo vai continuar.

 

Coloque o bloco na rua.

Essa festa já foi sua.

Expulsem esses caretas.

A praça é nossa, do povo.

Lute, cante e ria de novo.

Sejam pessoas porretas.