Nelson de Medeiros

DAMA DO AMOR



DAMA DO AMOR:
 
 
Vagava a esmo pela rua... Madrugada!...
Na miséria da sarjeta, do nada
Vi a Dama do Amor!... Santa beleza...!
Na escória, o rosto esquálido da fome
(Tirano implacável que o corpo consome)
Refletia a abundância da pobreza!...
 
Sem pejo algum, e, prenhe de nobreza,
Parou junto a jovem mãe indefesa
Que ao filhinho dava o seio já deserto!...
E vi, quando estendendo as mãos à pobre
Rogou-lhe: “- Coragem!.. Há gente nobre
Que vela por ti!...  O fim da dor é certo!..”
 
Adiante um velho aflito, passo incerto,
Doente, abatido, só, a céu aberto
E, humilhado pela pecha de ocioso!...
Ouvi, ainda,  sussurrar-lhe ao ouvido:
-Coragem!  O caminho dolorido
Leva ao Reino Divino e Majestoso!...
 
Perguntei-lhe, então, surpreso e curioso:
Que credo segues, que é raro e  virtuoso,
E, porque ages na noite sem espreita?
- Todo bem que a mão direita propaga,
Se visto pela esquerda, já se paga...
“Dar sem receber”... De Deus é esta a seita!...
 
Mas, afinal quem és alma perfeita,
Que o roto consola e sua dor respeita?
- Eu sou o Amor de Deus na humanidade
Que segue a Luz da terra prometida;
O egoísmo me chama de iludida,
E o sofrimento apenas:  Caridade!...
 


 

 

  • Autor: Nelson de Medeiros (Offline Offline)
  • Publicado: 11 de Abril de 2020 09:17
  • Comentário do autor sobre o poema: Poema feito na madrugada de 28/12/2013 depois de um inusitado e estranho sonho.
  • Categoria: Fantástico
  • Visualizações: 20

Comentários1

  • Dr. Francisco Mello

    Tapeio o aba larga - como se diz no Sul - para teu poema.
    Retratou com maestria, um espírito evoluído, exercendo a caridade.
    Parabéns, tchê.



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.