DAMA DO AMOR:
Vagava a esmo pela rua... Madrugada!...
Na miséria da sarjeta, do nada
Vi a Dama do Amor!... Santa beleza...!
Na escória, o rosto esquálido da fome
(Tirano implacável que o corpo consome)
Refletia a abundância da pobreza!...
Sem pejo algum, e, prenhe de nobreza,
Parou junto a jovem mãe indefesa
Que ao filhinho dava o seio já deserto!...
E vi, quando estendendo as mãos à pobre
Rogou-lhe: “- Coragem!.. Há gente nobre
Que vela por ti!... O fim da dor é certo!..”
Adiante um velho aflito, passo incerto,
Doente, abatido, só, a céu aberto
E, humilhado pela pecha de ocioso!...
Ouvi, ainda, sussurrar-lhe ao ouvido:
-Coragem! O caminho dolorido
Leva ao Reino Divino e Majestoso!...
Perguntei-lhe, então, surpreso e curioso:
Que credo segues, que é raro e virtuoso,
E, porque ages na noite sem espreita?
- Todo bem que a mão direita propaga,
Se visto pela esquerda, já se paga...
“Dar sem receber”... De Deus é esta a seita!...
Mas, afinal quem és alma perfeita,
Que o roto consola e sua dor respeita?
- Eu sou o Amor de Deus na humanidade
Que segue a Luz da terra prometida;
O egoísmo me chama de iludida,
E o sofrimento apenas: Caridade!...