Lacuna

Lho Cesar

Ainda que eu caminhasse por todas a avenidas, estradas e vielas 

em todas as direções do meu mapa labiríntico eu não chegaria até você

Tal qual desbravador cego e sedento por águas novas

abrisse caminhos por meio de tantas pernas

não seriam ainda as tuas

não beberia mais do teu vinho

Que eu buscasse pistas deixadas para trás, que rebuscasse a mim mesmo em meu vazio

nas constelações dos meus neurônios 

teu brilho não estaria alumiando meus meridianos, não

Olhasse eu as muitas fotografias que todavia permanecem não te vería

os olhos como os rios nunca são os mesmos assim como se por trivialidades dessa vida eu esbarrasse com teu rosto pelas horas do dia ou da noite

não te reconheceria 

não seria minha admiração teu riso

E quando meu próprio consciente, quase que autoconsciente, perguntasse o porquê

já não haveria resposta ou questionamentos

só apatia e a inerente sensação de talvez ter deixado para trás alguma coisa que carrego quase sempre mas não mais sei o que é

E por mais que por teimosia me esforçasse pra sentir outra vez tua presença

pra te evocar de volta do limbo do baú das coisas perdidas

Só encontraria a lacuna tão branca e vasta, imensa e eterna, onde se encontram os restos mortais de uma lembrança que foi esquecida.

 

 

 

  • Autor: Lho César (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 23 de setembro de 2020 20:03
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 7
Comentários +

Comentários1

  • @(ND)

    Variações intensas de desprezo, mas implicito o sentir... Já não há mais lacuna... Muito bom ler seus escritos, poeta. Gratidão, Lho Cesar!



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