Onde o macambo era Reino, onde nascemos filhos de reis... Onde Ogundelê nos fazia heróis, e banhávamos a Vitória nas águas de iemanjá.
Nos atravessaram a força e do outro lado do rio grande, os açoites queimavam as costas...
Onde éramos reis e Príncipes, nos obrigaram a deixar as coroas para vestir as mordaças. Deixamos de ecoar o canto dos deuses para rezar o pai nosso... que não nos escutava do céu, Que só ouvia os senhores em uma terra que não poderíamos mais sermos senhores de nós mesmos...
Nossas danças foram acorrentadas junto com nossos corpos ardidos do Sol, com nossas peles pretas queimadas pela chibata.
Não tem mais batuque, não tem mais bangulê...
Nosso canto foi calado junto da nossa identidade, Não mais cantávamos para os orixás, nossas línguas ficaram infecundas diante da língua branca.
Nossas mães amamentam os filhos brancos, nossas mulheres se deitam nas senzalas com homens brancos...
Somos o sangue que dá liga na massa que levanta a casa grande, somos a força do moinho que banha as moças brancas...
Construa, negro.
Levante essa cara preta do chão que pisa o feitor!!!
Vossuncê é vagabundo, preto! Nossa casa precisa do cê.
Não tem capoeira, Não!
Não tem jejênago pra oxum, só tem reza pra ave Maria, reze, negro, enquanto levanta a capela.
No navio que vieste, deixaste sua terra, onde era rei, Pra ser réu de uma história que precisamos construir... Com sangue negro, vermelho como o nosso, mas desalmado pela nossa necessidade.
Seus filhos serão meus bens, vendidos, trocados, meus!!!
Seu suor será o sustento do país, Mas só o sangue azul será lembrado!
Não chore negra, não faça dengo, sua lágrima não será o sal da minha terra!
Suas mãos marcadas serão o alicerce da minha era. É da sua pele, Que farei escrita na história do Brasil.
- Autor: Talita Lima ( Offline)
- Publicado: 14 de setembro de 2020 09:43
- Categoria: Sociopolítico
- Visualizações: 10
Comentários3
Dolorosa e vergonhosa realidade,em poesia decantada. Vergonhoso é constatar que muitos irmãos,aínda vivem sob a chibata social. Reagir é preciso!
Parabens menina,. Tens um baita talento.
1 ab
Talita, muito belo e muito forte. Parabéns!
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.