Dizem — e eu acredito com um pé atrás —
que o amor tem dupla personalidade.
Herói de capa improvisada,
vilão que esqueceu o texto
e improvisa feridas.
Eu observo.
Anoto mentalmente.
Finjo entender.
O amor sorri como quem salva o dia
e, logo depois, tropeça nos próprios poderes.
É alegria que ri alto,
é dor que cochicha tarde demais.
Esperança com agenda cheia,
ilusão que chega sem avisar
(e ainda pede café).
Num simples toque —
esse gesto pequeno que parece inocente —
a máscara cai.
E não por crueldade,
mas por cansaço.
Talvez amar seja isso:
aceitar que a verdade aparece
quando a gente menos ensaia,
que o herói também precisa sentar,
tirar as botas
e admitir suas falhas.
Eu, mulher de dúvidas organizadas,
continuo amando mesmo assim.
Com humor suficiente
para rir do paradoxo
e coragem para aceitar
que o amor não escolhe um lado.
Ele é herói e vilão.
E eu?
Sou quem fica no meio,
tentando entender
— com delicadeza —
por que ainda vale a pena.
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Autor:
Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (
Offline) - Publicado: 22 de dezembro de 2025 15:52
- Comentário do autor sobre o poema: O amor é um mestre do disfarce. Ele caminha entre nós com passos leves, vestindo a armadura do herói que resgata e, num sopro, a capa do vilão que desorienta. Habita o intervalo exato entre o riso frouxo e o aperto no peito, alimentando-se tanto de promessas quanto de sombras. Mas sua essência não suporta o teatro por muito tempo. Diante de um toque sincero ou de um olhar desarmado, o cenário desaba. A máscara cai e o que sobra é o humano: despido, real e imperfeito. Amar é ter a coragem de abraçar essa face nua, descobrindo que a beleza não está na perfeição da máscara, mas na verdade que floresce quando ela se quebra.
- Categoria: Amor
- Visualizações: 7
- Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Nelson de Medeiros

Offline)
Comentários1
Sim o amor é ... m jardim cuidado por quatro mãos ...
Belo poema.
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