Manual provisório para amar sem manual

Luana Santahelena

Dizem — e eu acredito com um pé atrás —

que o amor tem dupla personalidade.

Herói de capa improvisada,

vilão que esqueceu o texto

e improvisa feridas.

 

Eu observo.

Anoto mentalmente.

Finjo entender.

 

O amor sorri como quem salva o dia

e, logo depois, tropeça nos próprios poderes.

É alegria que ri alto,

é dor que cochicha tarde demais.

Esperança com agenda cheia,

ilusão que chega sem avisar

(e ainda pede café).

 

Num simples toque —

esse gesto pequeno que parece inocente —

a máscara cai.

E não por crueldade,

mas por cansaço.

 

Talvez amar seja isso:

aceitar que a verdade aparece

quando a gente menos ensaia,

que o herói também precisa sentar,

tirar as botas

e admitir suas falhas.

 

Eu, mulher de dúvidas organizadas,

continuo amando mesmo assim.

Com humor suficiente

para rir do paradoxo

e coragem para aceitar

que o amor não escolhe um lado.

 

Ele é herói e vilão.

E eu?

Sou quem fica no meio,

tentando entender

— com delicadeza —

por que ainda vale a pena.

  • Autor: Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 22 de dezembro de 2025 15:52
  • Comentário do autor sobre o poema: O amor é um mestre do disfarce. Ele caminha entre nós com passos leves, vestindo a armadura do herói que resgata e, num sopro, a capa do vilão que desorienta. Habita o intervalo exato entre o riso frouxo e o aperto no peito, alimentando-se tanto de promessas quanto de sombras. Mas sua essência não suporta o teatro por muito tempo. Diante de um toque sincero ou de um olhar desarmado, o cenário desaba. A máscara cai e o que sobra é o humano: despido, real e imperfeito. Amar é ter a coragem de abraçar essa face nua, descobrindo que a beleza não está na perfeição da máscara, mas na verdade que floresce quando ela se quebra.
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 7
  • Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Nelson de Medeiros
Comentários +

Comentários1

  • Arthur Santos

    Sim o amor é ... m jardim cuidado por quatro mãos ...
    Belo poema.



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