Dizem — e eu acredito com um pé atrás —
que o amor tem dupla personalidade.
Herói de capa improvisada,
vilão que esqueceu o texto
e improvisa feridas.
Eu observo.
Anoto mentalmente.
Finjo entender.
O amor sorri como quem salva o dia
e, logo depois, tropeça nos próprios poderes.
É alegria que ri alto,
é dor que cochicha tarde demais.
Esperança com agenda cheia,
ilusão que chega sem avisar
(e ainda pede café).
Num simples toque —
esse gesto pequeno que parece inocente —
a máscara cai.
E não por crueldade,
mas por cansaço.
Talvez amar seja isso:
aceitar que a verdade aparece
quando a gente menos ensaia,
que o herói também precisa sentar,
tirar as botas
e admitir suas falhas.
Eu, mulher de dúvidas organizadas,
continuo amando mesmo assim.
Com humor suficiente
para rir do paradoxo
e coragem para aceitar
que o amor não escolhe um lado.
Ele é herói e vilão.
E eu?
Sou quem fica no meio,
tentando entender
— com delicadeza —
por que ainda vale a pena.