Luana Santahelena

Manual provisório para amar sem manual

Dizem — e eu acredito com um pé atrás —

que o amor tem dupla personalidade.

Herói de capa improvisada,

vilão que esqueceu o texto

e improvisa feridas.

 

Eu observo.

Anoto mentalmente.

Finjo entender.

 

O amor sorri como quem salva o dia

e, logo depois, tropeça nos próprios poderes.

É alegria que ri alto,

é dor que cochicha tarde demais.

Esperança com agenda cheia,

ilusão que chega sem avisar

(e ainda pede café).

 

Num simples toque —

esse gesto pequeno que parece inocente —

a máscara cai.

E não por crueldade,

mas por cansaço.

 

Talvez amar seja isso:

aceitar que a verdade aparece

quando a gente menos ensaia,

que o herói também precisa sentar,

tirar as botas

e admitir suas falhas.

 

Eu, mulher de dúvidas organizadas,

continuo amando mesmo assim.

Com humor suficiente

para rir do paradoxo

e coragem para aceitar

que o amor não escolhe um lado.

 

Ele é herói e vilão.

E eu?

Sou quem fica no meio,

tentando entender

— com delicadeza —

por que ainda vale a pena.