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Noite estrelada
"Não tenho certeza de nada, mas a visão das estrelas me faz sonhar"
Van Gogh, em lampejo fremente se dispõe a pincelar
E ali, colore seus devaneios, suas dores e seus sonhos pálidos,
onde a dureza da vida adulta os enterra em leitos plácidos.
E trancamos o riso e a infância em uma gaveta cruel,
onde a dinâmica do tempo não permite um olhar ao céu.
A lua, só e resplancescente, ilumina sozinha a escuridão...
Não há suspiros às estrelas dançando na imensidão.
O Sol vem, ao alvorecer, trazendo a luz de um novo dia
Mas nem esse vislumbre desperta euforia.
Onde foi que erramos, por ficarmos tão cegos da vida?
Ninguém repara na beleza e simplicidade escondida.
No orvalho de manhã, o suave cintilar na folha verdejante,
Enquanto o branco do céu contrasta a todo instante.
E quando a luz solar incide sobre as árvores, cria brilho amarelo,
Nenhuma alma deleita por esse detalhe tão belo.
E quando a chuva cai, tilintando nas calhas e no telhado,
Purificando o ar, ressoando tranquilidade no canto molhado.
Não há acalento sincero ao pensamento despercebido
Sem perceber, não abraçou o tempo e esse foi perdido.
Quando foi que erramos, que nos tornamos tão vazios?
No oceano de nossa coragem agora só resta lagos e rios.
Perdemo-nos no cansaço de estar sobrevivendo,
Enquanto o mundo gira, não para e não estamos vivendo.
Em cada fissura de pixel, cada pequenez mais pequena
É onde adormece a verdadeira essência do que vale a pena.
Já reparou quão lindo é um sorriso sincero, com rugas a marcar?
Ou quando uma mão é estendida para resgatar sem cobrar?
E aquele arrepio energizante de uma música que toca a alma,
Um pássaro que corta o crepúsculo e transmite tanta calma...
Já reparou naquele livro frio que lhe fez pensar por horas,
enquanto fumegava café naquela xícara desbotada de histórias?
Acordou de manhã e recebeu o Sol em sua janela?
Se permitiu se acariciar com a brisa fresca de primavera?
Tocou os pés nus na grama esmeralda coberta por margaridas?
E já amou, só pelo prazer de amar e ter as dores supridas?
Percebe o quão la vie est belle, mes amis? Tudo tão livre e pulsante,
Batendo como o tic-tac de um relógio de pêndulo na estante.
Tão vivo, transbortando uma paleta de cores de um célebre pintor
Que criou e pintou o mundo em um suspiro de iluminação e amor.
Cada etapa uma pintura impressionista, voando com destreza,
Mas que o cansaço do tempo, de ser adulto cega e ofusca a beleza.
Abra a gaveta e vista os sonhos... se permita sonhar sonhador
Pegue seu pincel, nessa noite estrelada, você é o pintor.
- Autor: A.M.B (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 6 de abril de 2020 12:01
- Comentário do autor sobre o poema: Insight sobre a vida. Quando nos tornamos adultos, nos tornamos alienados, cansados, tristes. Mas é tempo de recuperar a essência do nosso ser, da nossa alma; de ver as coisas com simplicidade e pureza, sem os rótulos maçantes deste mundo de ilusão.
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 23
- Usuários favoritos deste poema: Levy
Comentários3
Lindo texto. Diria que é perfeito! Mas penso que nós ( os poetas. Rs) não perdemos nunca a capacidade de olhar de maneira profunda para todas as coisas. Sabemos apreciar as pequenas coisas e...isso faz de nós pessoas privilegiadas. E creio no poder da nossa escrita pra tornar isso algo universal. Vamos??? Parabéns, mais uma vez, vc foi incrível.
Bora Gi! Muito obrigada pelo comentário! Você é uma escritora sensacional, me sinto honrada. 🙂
Realmente um poema refrescante que coloca em pauta a vida acelerada do mundo globalizado, onde os detalhes são engolidos pelas grandes cidades e o mar de gente.
Excelente poesia e ótimo insight.
Entendeu exatamente a proposta do poema. Muito obrigada Levy:) Grande abraço
Encantando com este poema extremamente bem escrito devidamente estruturado e com sentimento transbordando na ideia a que propôs a poeta. Prenhe de todos os elementos que compõem o bom poema que, são,a meu ver um conto versificado nas nuances do enredo . Vc descreve sem se ater em detalhes desnecessários , mas prima nas linhas e tempo atual linear, etc. Muitíssimo bom, de verdade! Parabéns!
Muitíssimo obrigada Nelson. Ler esse comentário é uma honra pra mim:)
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