Manifesto ontológico de um quase alguém

Victória Bianca

"Manifesto ontológico de um descanso de porta"

 

É muita prepotência, eu sei...

Mas há dias, como este,

que me agarram pela gola 

e gritam no peito:

 

"Tu não és sequer o que pensas ser"

 

E eu, que pensava ser o pior entre os homens,

percebo que sequer sou homem.

E mesmo se fosse,

Nem o pior, poderia ser.

 

No bem, peco.

No mal, padeço.

Sou o intervalo e avesso

De dois mistérios que se mantêm

 

Choro, quase sempre, sem saber o porquê.

Sou o milagre das lágrimas que se multiplicam

 

Ontem chorei.

E se não puder chorar amanhã,

Hoje , por precaução, chorarei ,

 

Tudo me custa tanto.

O que quero, quando tenho, detesto.

E o que odeio, isso, nasceu em mim

 

Não me julgo digna do bem,

mas o mal, quando me vem

Perece uma injustiça tão tão grande!

 

Detesto o mundo como ele é,

mas suspeito, em segredo,

que se fosse do meu jeito,

Ah... seria muito pior.

 

Falta-me algo,

essencial talvez.

Mas se tivesse,

como justificaria

minha poesia inata?

 

Sou só uma falta

Um desconforto sem nome e antigo

Um estalo da mobília da casa

 

Nasci de gente que era quase gente

Fui quase filha de um quase alguém

Logo, sou quase, quase ...quase alguém 

 

Demais para o muito pouco,

e tão pouco para qualquer coisa além

 

Talvez eu queira ser outro 

mas se fosse,

 

Sendo eu,

choraria de novo.

 

Escreveria este mesmo poema,

que não consola e nem encanta 

 

Estaria, mais uma vez,

entre os mistérios

que se mantêm.

 

  • Autor: Victória Bianca (Offline Offline)
  • Publicado: 31 de julho de 2025 23:35
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 7
Comentários +

Comentários2

  • Camila Viana

    podes crer..fiquei encantada..enfeitiçada com tantas verdades escritas com profundidade...abraços..

  • CORASSIS

    Tu és uma destas poucas poetisas extraordinárias!
    Infelizmente percebi há pouco toda sua perola preciosa poética.
    Aplausos.

    • Victória Bianca

      Muito obrigada... Eu agradeço de coração. Tenho tido cada vez menos fé no que escrevo. Mas raros elogios, de poucos leitores que somados ainda são quase nulos, me mantém. Obrigada.



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