"Manifesto ontológico de um descanso de porta"
É muita prepotência, eu sei...
Mas há dias, como este,
que me agarram pela gola
e gritam no peito:
"Tu não és sequer o que pensas ser"
E eu, que pensava ser o pior entre os homens,
percebo que sequer sou homem.
E mesmo se fosse,
Nem o pior, poderia ser.
No bem, peco.
No mal, padeço.
Sou o intervalo e avesso
De dois mistérios que se mantêm
Choro, quase sempre, sem saber o porquê.
Sou o milagre das lágrimas que se multiplicam
Ontem chorei.
E se não puder chorar amanhã,
Hoje , por precaução, chorarei ,
Tudo me custa tanto.
O que quero, quando tenho, detesto.
E o que odeio, isso, nasceu em mim
Não me julgo digna do bem,
mas o mal, quando me vem
Perece uma injustiça tão tão grande!
Detesto o mundo como ele é,
mas suspeito, em segredo,
que se fosse do meu jeito,
Ah... seria muito pior.
Falta-me algo,
essencial talvez.
Mas se tivesse,
como justificaria
minha poesia inata?
Sou só uma falta
Um desconforto sem nome e antigo
Um estalo da mobília da casa
Nasci de gente que era quase gente
Fui quase filha de um quase alguém
Logo, sou quase, quase ...quase alguém
Demais para o muito pouco,
e tão pouco para qualquer coisa além
Talvez eu queira ser outro
mas se fosse,
Sendo eu,
choraria de novo.
Escreveria este mesmo poema,
que não consola e nem encanta
Estaria, mais uma vez,
entre os mistérios
que se mantêm.
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Autor:
Victória Bianca (
Offline)
- Publicado: 31 de julho de 2025 23:35
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 7
Comentários2
podes crer..fiquei encantada..enfeitiçada com tantas verdades escritas com profundidade...abraços..
Tu és uma destas poucas poetisas extraordinárias!
Infelizmente percebi há pouco toda sua perola preciosa poética.
Aplausos.
Muito obrigada... Eu agradeço de coração. Tenho tido cada vez menos fé no que escrevo. Mas raros elogios, de poucos leitores que somados ainda são quase nulos, me mantém. Obrigada.
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