Não se avexe não

Ester Araújo

Não se avexe não, que o vento sabe

o rumo certo de empurrar as nuvens,

e a flor mais bela do mandacaru

nasce onde o mundo diz que não nasce nada.

 

Não se avexe não, que a dor é poeira,

e o tempo — ah, o tempo é rede que embala.

Mesmo o chão rachado guarda segredo

de fonte mansa por debaixo da fala.

 

Toda espera tem jeito de seca,

mas a alma… a alma é cacimba escondida.

Basta ter fé no passo da andorinha

e paciência no compasso da vida.

 

Não se avexe, não.

O céu de barro também tem estrela,

e a mão calejada que planta esperança

colhe silêncio em forma de canção.

 

Se o dia for duro, não tema:

até o juazeiro sonha sombra em agonia.

Há beleza na teimosia da semente

e milagres bordados na luz do meio-dia.

 

Então, não se avexe.

Deixe o coração descansar no colo do vento.

O sertão — que parece ausente —

é só Deus em seu mais longo pensamento.

  • Autor: Esterlar (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 16 de junho de 2025 03:39
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 4
Comentários +

Comentários1

  • CORASSIS

    Lindo poema! Pode ser musicado, poetisa.
    Parabéns.
    Abraço.

    • Ester Araújo

      E eu aqui achando que só dava pra ler... agora vem você me dizendo que dá pra cantar também? Haha
      Amei!

      Brincadeiras à parte, muito obrigada pelo carinho!
      Saber que o poema tem alma de música é um elogio daqueles que a gente guarda com gosto.
      Abraço afinado e cheio de gratidão!



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