Ester Araújo

Não se avexe não

Não se avexe não, que o vento sabe

o rumo certo de empurrar as nuvens,

e a flor mais bela do mandacaru

nasce onde o mundo diz que não nasce nada.

 

Não se avexe não, que a dor é poeira,

e o tempo — ah, o tempo é rede que embala.

Mesmo o chão rachado guarda segredo

de fonte mansa por debaixo da fala.

 

Toda espera tem jeito de seca,

mas a alma… a alma é cacimba escondida.

Basta ter fé no passo da andorinha

e paciência no compasso da vida.

 

Não se avexe, não.

O céu de barro também tem estrela,

e a mão calejada que planta esperança

colhe silêncio em forma de canção.

 

Se o dia for duro, não tema:

até o juazeiro sonha sombra em agonia.

Há beleza na teimosia da semente

e milagres bordados na luz do meio-dia.

 

Então, não se avexe.

Deixe o coração descansar no colo do vento.

O sertão — que parece ausente —

é só Deus em seu mais longo pensamento.