Não se avexe não, que o vento sabe
o rumo certo de empurrar as nuvens,
e a flor mais bela do mandacaru
nasce onde o mundo diz que não nasce nada.
Não se avexe não, que a dor é poeira,
e o tempo — ah, o tempo é rede que embala.
Mesmo o chão rachado guarda segredo
de fonte mansa por debaixo da fala.
Toda espera tem jeito de seca,
mas a alma… a alma é cacimba escondida.
Basta ter fé no passo da andorinha
e paciência no compasso da vida.
Não se avexe, não.
O céu de barro também tem estrela,
e a mão calejada que planta esperança
colhe silêncio em forma de canção.
Se o dia for duro, não tema:
até o juazeiro sonha sombra em agonia.
Há beleza na teimosia da semente
e milagres bordados na luz do meio-dia.
Então, não se avexe.
Deixe o coração descansar no colo do vento.
O sertão — que parece ausente —
é só Deus em seu mais longo pensamento.