O MAPA DO VENTO

Sezar Kosta

Há um lugar que o tempo não alcança,

onde os relógios dormem

e o riso acorda com o sol.

 

Nesse reino sem nome,

feito de vozes pequenas e pés descalços,

a infância dança com o vento,

desenhando segredos no ar.

 

As manhãs ali são feitas de ouro macio,

e as borboletas sabem os nomes das estrelas.

Um cata-vento gira no quintal,

apontando para o infinito,

onde os sonhos voam mais alto que aviões de papel.

 

As mãos moldam castelos de barro e céu,

e cada folha caída é um bilhete do universo,

escrito na língua dos que ainda acreditam.

 

Os adultos?

Eles perderam o mapa —

aquele feito de giz e travessuras,

deixado numa dobra do tempo.

Agora andam em linha reta,

sem perceber as curvas da imaginação.

 

Mas há quem guarde um traço desse mapa

na dobra de um sorriso,

ou nos olhos que ainda sabem brincar com a luz.

 

E quando o vento sopra mais forte,

ele traz consigo o som da infância:

uma canção sem palavras,

que sussurra o essencial —

aquilo que só se vê

com os olhos da alma leve.

  • Autor: Sezar Kosta (Offline Offline)
  • Publicado: 24 de abril de 2025 15:04
  • Comentário do autor sobre o poema: Sabe aquele segredo que a gente quase esqueceu no fundo da gaveta da infância? Pois bem, "O Mapa do Vento" nasceu num desses dias em que o vento sussurra lembranças e a gente escuta. Como quem reencontra um bilhete dobrado no bolso de um casaco antigo — aquele que só servia nos sonhos. Escrevi inspirado por esse lugar onde o tempo se perde e a alma encontra fôlego. Leia com olhos leves… e, se puder, deixa um comentário. Vai que você também achou uma curva desse mapa escondido por aí?
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 15
  • Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta, Melancolia...
Comentários +

Comentários2

  • Melancolia...

    Nossa...Navego muito nesse mar de poesias lindas....
    Admirável teus escritos...
    Já aguardando as próximas pérolas...

    • Sezar Kosta

      "No quintal da minha infância
      cabia o mundo inteiro:
      um pé de goiaba,
      o cheiro de terra molhada,
      e o segredo das formigas.

      Eu era pequeno,
      mas o universo crescia em mim
      feito broto de feijão
      furando o escuro da terra.

      Cada manhã era novidade:
      um pássaro, um raio de sol,
      o som doce do rio
      correndo por dentro dos dias.

      A infância não se perde:
      fica guardada feito semente,
      esperando um olhar distraído
      pra florescer de novo
      no jardim do coração".
      [por Sezar Kosta]

      Muito obrigado pelo seu carinho meu amigo! Fico feliz que esse pedacinho de sonho também tenha te tocado. Que nunca te falte um avião de papel para cruzar o impossível!

      • Melancolia...

        Grato pelo lisonjeado e belo poema-resposta...
        Seguiremos com esse avião de papel depositando uma resma de poesias em teu coração....
        Abraços;;

        • Melancolia...

          É claro que não eram
          os mesmos pés de goiaba —
          mas cheirava a chuva
          depois de uma tarde quente.

          Isso também parece
          fazer parte do meu caminho.

          Este acampamento,
          um cachorro com um nome engraçado,
          corria, anunciava,
          e a gente inventava o mundo
          com galhos na mão
          e muitos sonhos na cabeça.

          Eu era diferente,
          mas, ao mesmo tempo... era o mesmo:
          criança de coração descalço,
          vivendo aventuras invisíveis,
          coletando manhãs
          como se fossem tesouros.

          Ouço agora seus bons anseios,
          como se suas memórias
          concordassem com as minhas —
          e a gente se encontrasse,
          parecendo que aquilo
          nunca teve fim.

          Porque brincar
          era quase um jeito
          de ser eterno.

          A amizade também é isso:
          guardar o tempo do outro
          como quem esconde, com carinho,
          um brinquedo antigo
          num cantinho do peito.

        • Rosangela Rodrigues de Oliveira

          Me senti por um instante nesse lugar. O mapa do vento me guiou pra lá. Lindo e suave seu poema. Boa tarde poeta.

          • Sezar Kosta

            Ah, que alegria saber que o poema encontrou abrigo no seu coração! Que seus dias sejam sempre iluminados por estrelas que ainda brincam de esconde-esconde no céu da alma. Volte sempre que quiser — aqui o mapa é mágico e cabe mais gente.

            A nostalgia aqui não é pesarosa, não pesa como saudade impossível. Ela é suave, como um perfume esquecido num lenço antigo, reencontrado por acaso numa tarde de arrumação interior. É uma saudade que acaricia em vez de ferir. Que traz de volta, não o tempo que passou, mas o olhar que esquecemos de carregar conosco.



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