BANZO

Nelson de Medeiros



A minha dor, dizes, é hipocrisia,

é só lembrança dum beijo roubado;

negas até, que eu já tenha te amado,

e que versá-la é quase uma heresia!

 

Teu sentimento soa a ironia,

pois irreal é o que tens me falado;

 a nostalgia, que eu verso inspirado,

é lira real, e não fantasia!

 

É mesmo banzo o que, cá dentro eu sinto,

e não arroubo dum beijo de instinto,

que te roubei num momento incontido!

 

A dor que eu sinto é da tua ausência,

é a saudade daquela vivência,

que agora eu canto em soneto sofrido!

 

Nelson de Medeiros

Comentários +

Comentários3

  • DAN GUSTAVO

    Tocante e lindo...! E similar a ideia que a história nos conta sobre esse cântico que os escravizados entoavam naquelas condições em que vinham para o Novo Mundo! Uma boa tarde e semana, meu irmão em letras!

  • Ema Machado

    Sublime!

  • Dr. Francisco Mello

    Mas bah, poeta... Como diria um cantor do RS:
    "se eu conheço o meu direito, que me importa o delegado, tchê".
    Se a tristeza profunda é tua, o que ela ou os outros
    quantifica não há de ser relevante, posto que sabes, tu, a medida
    exata. E, creio que é imensa, pois, para ser chamada de BANZO,
    tem que ser intensa, lembrando a melancolia dos escravos...
    De todo modo, UM BAITA POEMA. SOFRIDO BARBARIDADE, MAS
    BEM FEITINHO, COMO É DO TEU FEITIO.
    BAITA ABRAÇO, BARDO TOP.



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