Selva de pedra

Lucas Guerreiro

Risos, sorrisos, riscos, arrisco
Eu, à risca, tornar-te rico.
Riquíssimo em saber a dor,
Torpor, choror, rancor, mortor
Da seiva, da selva - de pedra,
Da lágrima que cai, queda, seca-se,
Da gota que sua, voa, evapora-se.

Transpiramos ao luar,
Dançamos ao solar.
Trancamos nossas portas
Rezando para ninguém nos acertar.

Bebemos nosso café
De dia para chorar,
De noite para trabalhar,
Aceitando tudo sem reclamar:

"Se reclamares, será pior" - dizem eles.
"Guarde tuas reclamações para amanhã pois
Há de ser melhor." - insistem eles.

"Amanhã não estarei vivo para reclamar", eu penso.
Penso, penso, e, logo, logo, já não mais existo.

Evaporo e fundo-me às
inconsistentes micropartículas de ar.

Já não há motivo para lutar.
Para onde foi meu luar?

Eis que desço, desço,
Corro e me afundo
Num mar tempestuoso,
Num abismo - dos mais profundos!

Apresso-me em direção ao vento.
Quero tornar-me em nada!
Pois que do nada, nada vem.
Pois então venha,
nade contra a correnteza.

Atraia-me para o sol,
Acenda a fogueira e
Prepare aquele nosso café gostoso
- aquele que só você faz.

Que os ventos do nada
Para aqui mandem esse cheiro.
Que a forte tormenta não
Apague esse teu fogo em lenha.

A tempestade passou.
Minha hora chegou.

Já não há motivos para chorar.
Enfim, achei meu solar!

À selva de pedra hei de retornar.
Brandirei minha espada,
Meu terço
E terçado - até que volte a suar.

  • Autor: Lucas Guerreiro (Offline Offline)
  • Publicado: 19 de janeiro de 2025 23:26
  • Comentário do autor sobre o poema: Aí vai um dos meus preferidos, espero que o apreciem tanto quanto eu.
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 12
Comentários +

Comentários2

  • CORASSIS

    De uma mente atemporal poética !
    Gostei Lucas, parabéns .
    Abraço

    • Lucas Guerreiro

      Grato pela visita, Corassis!
      Abraço

    • ecosdoinfinito

      É um poema lindo, cheio de profundidade e tocante.
      Soou um pouco como Clarisse Lispector, ou seria apenas impressão minha?

      • Lucas Guerreiro

        Uau, muita gentileza sua essa comparação. Adoraria soar, ressoar e reverberar como a mestra Clarice, talvez seja apenas impressão, haha. Ademais, agradeço a visita.
        Abraço



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