Lucas Guerreiro

Selva de pedra

Risos, sorrisos, riscos, arrisco
Eu, à risca, tornar-te rico.
Riquíssimo em saber a dor,
Torpor, choror, rancor, mortor
Da seiva, da selva - de pedra,
Da lágrima que cai, queda, seca-se,
Da gota que sua, voa, evapora-se.

Transpiramos ao luar,
Dançamos ao solar.
Trancamos nossas portas
Rezando para ninguém nos acertar.

Bebemos nosso café
De dia para chorar,
De noite para trabalhar,
Aceitando tudo sem reclamar:

\"Se reclamares, será pior\" - dizem eles.
\"Guarde tuas reclamações para amanhã pois
Há de ser melhor.\" - insistem eles.

\"Amanhã não estarei vivo para reclamar\", eu penso.
Penso, penso, e, logo, logo, já não mais existo.

Evaporo e fundo-me às
inconsistentes micropartículas de ar.

Já não há motivo para lutar.
Para onde foi meu luar?

Eis que desço, desço,
Corro e me afundo
Num mar tempestuoso,
Num abismo - dos mais profundos!

Apresso-me em direção ao vento.
Quero tornar-me em nada!
Pois que do nada, nada vem.
Pois então venha,
nade contra a correnteza.

Atraia-me para o sol,
Acenda a fogueira e
Prepare aquele nosso café gostoso
- aquele que só você faz.

Que os ventos do nada
Para aqui mandem esse cheiro.
Que a forte tormenta não
Apague esse teu fogo em lenha.

A tempestade passou.
Minha hora chegou.

Já não há motivos para chorar.
Enfim, achei meu solar!

À selva de pedra hei de retornar.
Brandirei minha espada,
Meu terço
E terçado - até que volte a suar.