Quando disseram-me que eras uma mangueira, nomeando-a
Acreditei conhecer-te deveras, enquanto, de fato, jazia a verdade.
Agora, tão próximos, com os olhos de quem desconhece,
Apenas sinto cairem suaves gotículas que trazem à tua sombra
Uma aprázivel sensação de frescor, onde antes, era apenas calor!
Deleito-me em curiosidades, ao reparar tuas folhas tão verdes!
Já não és mangueira! Vejo-a viva em todo esplendor!
A porosidade dos galhos e tronco; as sinuosas curvas das raízes expostas...
Na irregularidade das formas, teu fruto contém um sabor especial.
Nada que lembre os tristes frutos perfeitos dos mercados!
Há uma dignidade em existir, que não percebi ao acreditar conhecer-te
Apenas pelo que não eras: mercadoria-manga
Mas ao atribuir-me um nome e uma alma, e a ti um nome sem alma
Condenei-me ao dissociar-me daquilo que naturalmente Sou.
Agora vejo um sombrio cenário de revanche natural pairando sobre nós.
Mas não cabe à natureza vingar-se sendo nós naturalmente parte dela!
Ao julgarmos-nos conhecedores de tudo, sem conhecermo-nos a
Nós mesmos, idealizamos o que é, pelo que não é, e perdemos-nos...
Procuro no espelho respostas para o que vejo
Mas o que eu vejo duvida do que sou!
E agora? O que sobrou de nós?
- Autor: Marcelo E. Oliveira (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 29 de dezembro de 2024 09:05
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 9
Comentários3
Ave poeta! Tens o dom, com certeza. A metáfora da mangueira representando a natureza e a alma humana reflete com substância a compreensão ente as duas. O final é uma dúvida que o poeta expressa sobre o que aconteceria se nos desligássemos do nosso “eu” natural. Belo texto. 1 ab.
Obrigado! Suas palavras me estimulam a prosseguir, agora com mais certezas do que dúvidas!
Caro Marcelo,
Que reflexão profunda e deliciosa você nos presenteou! Seu poema é como uma aula de filosofia ao ar livre, onde uma simples mangueira se transforma em mestra da sabedoria. A forma como você entrelaça o cotidiano com questões existenciais é simplesmente brilhante.
Sabe aquela sensação de quando descobrimos que sabíamos menos do que pensávamos saber? Você capturou esse momento perfeitamente! E ainda nos fez sorrir ao comparar as mangas "imperfeitas" da natureza com as "tristes frutas perfeitas" dos mercados - que metáfora certeira!
Parabéns por essa obra que nos faz parar, respirar e repensar nossa relação com a natureza e conosco mesmos. Você tem um dom especial para transformar uma simples observação em uma profunda reflexão filosófica, sem perder a leveza e a beleza poética. Que delícia de leitura!
Feliz Ano Novo, meu amigo! Que a virada do ano seja como um vento suave que leva embora as sombras e traz consigo o frescor da renovação. Que 2025 seja como um poema novo, onde as palavras mais simples tragam as verdades mais profundas. Que sua alma se inspire para escrever o melhor capítulo da sua vida.
Prezado Sezar,
Muito me emocionou seu comentário. São palavras gentis , de um coração certamente gentil. Desejo a você um ótimo 2025 com prosas & versos em cascata e prossigamos semeando!!! Grato!!
SERGIO NEVES - ...meu amigo...,...o que dizer? ...uma filosofia pra lá de filosófica! ...uma poesia pra lá de poética! ...tudo de uma excelência só...,...mil parabéns! /// Abçs.
Fico feliz que o poema o tenha tocado. Suas palavras gentis me dão muita força para prosseguir. Lembrando que o leitor é protagonista da obra e nesse sentido você está de parabéns também. Grato de coração!!!
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