Quando disseram-me que eras uma mangueira, nomeando-a
Acreditei conhecer-te deveras, enquanto, de fato, jazia a verdade.
Agora, tão próximos, com os olhos de quem desconhece,
Apenas sinto cairem suaves gotículas que trazem à tua sombra
Uma aprázivel sensação de frescor, onde antes, era apenas calor!
Deleito-me em curiosidades, ao reparar tuas folhas tão verdes!
Já não és mangueira! Vejo-a viva em todo esplendor!
A porosidade dos galhos e tronco; as sinuosas curvas das raízes expostas...
Na irregularidade das formas, teu fruto contém um sabor especial.
Nada que lembre os tristes frutos perfeitos dos mercados!
Há uma dignidade em existir, que não percebi ao acreditar conhecer-te
Apenas pelo que não eras: mercadoria-manga
Mas ao atribuir-me um nome e uma alma, e a ti um nome sem alma
Condenei-me ao dissociar-me daquilo que naturalmente Sou.
Agora vejo um sombrio cenário de revanche natural pairando sobre nós.
Mas não cabe à natureza vingar-se sendo nós naturalmente parte dela!
Ao julgarmos-nos conhecedores de tudo, sem conhecermo-nos a
Nós mesmos, idealizamos o que é, pelo que não é, e perdemos-nos...
Procuro no espelho respostas para o que vejo
Mas o que eu vejo duvida do que sou!
E agora? O que sobrou de nós?