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Era andante, andarilho
Indestinado, pés descalçados
Há tanto céu, faltam-me voos
E, do pouco de chão,
Tolhem-me os passos
Sou caminho e caminhante
Não raramente venho a me servir
Com meu ultraje maltrapilho
Era um torto no chão
Roto, em trapos, esfarrapado
Vejo-me, na calçada faminto
E quantas vezes me ignoro
Mas de joelhos ainda rogo
Em prece para o ser inglório
Na límpida igreja opulente
Vou pedindo ações de graça
Para abrandar alguma desgraça
No seio daquele indigente
E expurgada toda a mácula da culpa
Brancacento, que outra face se esculpa
Ao preço de um tempo, meu fardo
Observo-me orando logo ao lado
Sem saber das sinas e dos sinos
Que se dobram enquanto procrastino
E nesse mesmo destempo, a missa ia
E diante das noites e dos muitos dias
Via-me reverendíssimo no alto do altar
Incitando a fechar os olhos e a balbuciar
Com desversos da pura hipocrisia
Proclamando a mais bela homilia
Sou caminho e caminhante
Não raramente venho a me servir
Com meu ultraje maltrapilho
Era um torto no chão
Roto, em trapos, esfarrapado
Era andante, andarilho
Indestinado, pés descalçados
Há tanto céu, faltam-me voos
E, do pouco de chão,
Tolhem-me os passos
...
- Autor: Hébron (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 16 de setembro de 2024 15:47
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 5
Comentários2
Salve, poeta! Li teu poema interessantíssimo. Reli. Não sei se o entendi no todo, faltou-me, confesso, tino para alcançar seu pensamento e sua inspiração. Falas de alguém por metáforas? É mera ficção? Forte abraço, meu amigo, poeta de mão cheia!
Caríssimo poeta, que satisfação para mim a sua interação!
Devo dizer que fiz uma correção de uma palavra: não era para ser 'indulgente", e sim indigente.
Esse texto me veio de uma reflexão sobre a humanidade e o fato de sermos iguais... Então me vieram as ideias de sermos um só, todos são eus... No contexto, destacando também a hipocrisia humana... Algo meio doido e doído que deixei fluir...
Grande abraço meu amigo Nelson
Ah! Então, entendi o texto, "ab initio" ! És muito grande poeta, muito grande! Quanta verdade; somos iguais nos direitos e nos deveres, todos, cada um de nós, a seu tempo, subiremos ao grande Mundo. 1 ab
SERGIO NEVES - ...meu amigo...,...foste fundo! ...um escrito que dá bem a mostra da tua intensa veia poética...,...deste muita profundidade ao tema, a essa tua inspiração,...fundiste, com digna sensibilidade, um quase que total alquebrantado estado de espírito a algum restinho de comunhão com o sagrado...,...belas "imagens" derramaste aqui! ....parabéns! /// Abçs.
Caríssimo Sérgio, que interpretação bonita!
Muito obrigado
Abraço
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