E se o mundo terminasse amanhã?
O trânsito parado.
Pessoas correndo, em desespero.
Tiros, gritos, explosões.
Após terminar de escovar os dentes, eu pegaria uma roupa surrada do varal e correria, torcendo pra não atrasar.
De verdade, o meu chefe não se importa se quebro uma perna, perco um parente ou levo um tiro... O importante: Não faltar ao serviço. Afinal, sou pago pra isto.
E, assim, não é como se o mundo sempre não estivesse a um passo do fim. Cada vez mais, o ar está poluído, a comida escassa, vejo pessoas chorando, implorando por uma chance, uma vida, enquanto outras, gargalham, maltratam... Até porque, quando esta conta do bar, finalmente, fechar, a festa não vai acabar pra todos.
Ainda haverá bebidas.
Fartura.
Até vidas.
Por isto, acima dos meus problemas, estão as minhas responsabilidades...
Respirando fundo, eu limpo a cara, troco a roupa, fecho o sapato.
Após pegar o mesmo ônibus, sigo.
Ignorando o medo advindo das sombras, os olhares famintos... Por mais um dia, eu sigo.
Só sigo.
Esforçando-me pra alcançar as expectativas.
Esforçando pra continuar neste mundo que queima em chamas, prestes a desmoronar.
Esforçando-me... Não sei se poderia dizer “viver”, mas, lá no fundo, temo o desconhecido, a escuridão, o inevitável desaparecer.
Acho que lá no fundo, sigo por ser um outro covarde, com medo da dor.
Registrando a minha digital na máquina, suprimo as lágrimas. Simulando a indiferença, repito o ignorado “bom dia” e sigo.
Sigo.
Enquanto troco a água avermelhada daquele balde rachado, escuto gritos e percebo que obedeço pelo medo de sofrer.
Apesar de assombrado, eu trabalho, pois não quero morrer.
- Autor: Sirukyps ( Offline)
- Publicado: 1 de setembro de 2024 02:52
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 13
Comentários2
Sensacional. Crítica super importante.
Parabéns, poeta!
Abraços!
seu poema carrega fortemente a crítica sobre estarmos vivos-mortos neste mundo! lindo poema, poeta.
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