Eu tenho uma ferida nas costas
ou ela me tem?
não poderia saber
uma ferida aberta, imagino
não poderia saber
pois eu nunca a vi
sei que tenho porque a sinto
ela dói muito, uma dor latejante
lembro a primeira vez que doeu
acordei e mal podia me mover da cama
penso que sangrou quando foi aberta
ficaram poças vermelhas no lençol
tinha a sensação de ser bem no meio das minhas costas
não tive coragem nem de tentar olhar
evitei os espelhos por alguns meses
usei roupas largas e escuras
não queria que ninguém conhecesse a minha ferida
enquanto isso ela seguia doendo
tomei remédio para dor
tomei remédio para não inflamar
até tentei fazer um curativo
mas não consegui
precisaria olhar para cobrir
e eu não poderia ver
como ousaria?
se descobrisse como me feri
e fosse a culpada?
e se não fosse?
e se precisasse fazer algo mais do que suportar a dor?
e se foi faca, arame farpado ou caco de vidro
o que eu faria?
o tempo passou e a ferida fechou
sei, pois um dia parou de doer
outro dia, tive insônia
virei de um lado para o outro na cama
esfregando as costas no lençol
a desconhecida ferida reabriu
e agora?
- Autor: Jakeline Isabel ( Offline)
- Publicado: 4 de julho de 2024 00:20
- Comentário do autor sobre o poema: Voltando a publicar por aqui depois de muito tempo, senti saudadesss!!
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 14
- Usuários favoritos deste poema: Nelson de Medeiros
Comentários4
Uau, que poema poderoso e visceral! Você mergulhou fundo nas águas turbulentas do trauma e da dor, criando uma metáfora vívida e palpável. Suas palavras são como um bisturi afiado, dissecando emoções complexas com precisão cirúrgica. Que talento para transformar uma ferida invisível em versos tão tangíveis e emocionantes! Parabéns por criar algo tão corajoso e honesto. Você tem um dom especial para dar voz ao indizível, para tornar visível o que muitos preferem esconder. Seu poema é como um espelho que reflete não apenas a dor individual, mas também a condição humana em toda sua vulnerabilidade. Simplesmente arrebatador!
Obrigada!!! Vejo por seu comentário que o indizível da minha poesia foi bem entendido por aí. Gratidão por sua leitura e comentário.
Essa ferida é como uma punhalada nas costas, só o tempo pra cicatrizar. Boa tarde.
Quem poderia saber... (:
Uma ferida nas costas causa sérios incômodos. Um lugar de difícil acesso para fazer os curativos! Também dificulta na visualização. Imagino como a poeta lidou com esta situação.
Abraços e boa cicatrização!
Abraço (:
Amei o teu poema, onde se discorre sobre a dor da humanidade. 1 ab
Obrigada Nelson!
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