A desconhecida

Jakeline Isabel

Eu tenho uma ferida nas costas

ou ela me tem?

não poderia saber

uma ferida aberta, imagino

não poderia saber

pois eu nunca a vi

sei que tenho porque a sinto

ela dói muito, uma dor latejante

lembro a primeira vez que doeu

acordei e mal podia me mover da cama

penso que sangrou quando foi aberta

ficaram poças vermelhas no lençol

tinha a sensação de ser bem no meio das minhas costas

não tive coragem nem de tentar olhar

evitei os espelhos por alguns meses

usei roupas largas e escuras 

não queria que ninguém conhecesse a minha ferida

enquanto isso ela seguia doendo

tomei remédio para dor

tomei remédio para não inflamar 

até tentei fazer um curativo

mas não consegui

precisaria olhar para cobrir

e eu não poderia ver

como ousaria?

 

se descobrisse como me feri

e fosse a culpada?

e se não fosse?

e se precisasse fazer algo mais do que suportar a dor?

e se foi faca, arame farpado ou caco de vidro

o que eu faria?

 

o tempo passou e a ferida fechou

sei, pois um dia parou de doer

 

outro dia, tive insônia

virei de um lado para o outro na cama

esfregando as costas no lençol

a desconhecida ferida reabriu

e agora?

 

 

  • Autor: Jakeline Isabel (Offline Offline)
  • Publicado: 4 de julho de 2024 00:20
  • Comentário do autor sobre o poema: Voltando a publicar por aqui depois de muito tempo, senti saudadesss!!
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 8
Comentários +

Comentários3

  • Sezar Kosta

    Uau, que poema poderoso e visceral! Você mergulhou fundo nas águas turbulentas do trauma e da dor, criando uma metáfora vívida e palpável. Suas palavras são como um bisturi afiado, dissecando emoções complexas com precisão cirúrgica. Que talento para transformar uma ferida invisível em versos tão tangíveis e emocionantes! Parabéns por criar algo tão corajoso e honesto. Você tem um dom especial para dar voz ao indizível, para tornar visível o que muitos preferem esconder. Seu poema é como um espelho que reflete não apenas a dor individual, mas também a condição humana em toda sua vulnerabilidade. Simplesmente arrebatador!

    • Jakeline Isabel

      Obrigada!!! Vejo por seu comentário que o indizível da minha poesia foi bem entendido por aí. Gratidão por sua leitura e comentário.

    • Rosangela Rodrigues de Oliveira

      Essa ferida é como uma punhalada nas costas, só o tempo pra cicatrizar. Boa tarde.

    • Shmuel

      Uma ferida nas costas causa sérios incômodos. Um lugar de difícil acesso para fazer os curativos! Também dificulta na visualização. Imagino como a poeta lidou com esta situação.
      Abraços e boa cicatrização!



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