SOCIEDADE
Um casal carioca, podre de chic,
alugou casa de morada
na nossa cidadezinha.
O povo dos vilarejos
recebe os vindos da capital
com muita deferência.
Fui então apresentada à madame,
por, pelo menos, oito amigos diferentes,
sem nunca ser reconhecida.
A cada vez madame concedeu-me
o mesmo cumprimento distraído,
com dedos moles, e no dialeto dos xis.
Nas cidades pequenas
todos se conhecem e tudo se sabe.
As janelas olham... os muros falam...
Desde que soube de nossa saudável
conta bancária, madame passou
a me acenar de longe, e a saudar
com dois beijinhos estalados.
- Autor: Cecília Cosentino (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 10 de julho de 2020 17:50
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 20
Comentários4
Cecília, adorei o poema, que descreve um retrato comum da sociedade, a hipocrisia e a indiferença...
Abraço
OBRIGADA, HÉBRON. Às vêzes a gente faz uma maldadezinha. Obrigada por me ter lido e opinado.
Gostando muito de ver esse seu lado debochado, beirando ao sarcasmo... essa SOCIEDADE, que você descreve, Society, merece. Bem feito!
Obrigada, Chico Lino, por me ler e opinar. Sem querer revelei a maldade do meu coração... Abraço.
Eu amei a coloratura dessas estrofes: cada uma parece apresentar-se por meio de uma cena própria, quase como num teatro; a primeira vem com aquele gosto de memória, toda ordena; chega a segunda na surdina, com o silêncio belo de uma fofoca; já a terceira despenca teatral, toda cheia de ordem; a quarta segue como uma gêmea mais sinistra da segunda; e, por fim, a última é aquela irmã debochada.
Muito bom.
Vancourt, obrigada por se demorar nas minhas linhas, e me apontr o que eu não tinha percebido. Abraço.
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